RESUMOS
EXPANDIDOS DAS SESSÕES COORDENADAS
Dia
28/10/2015 – Quarta-feira
15h30 às
17h15 – Sessão Coordenada
12
FONTES,
ACERVOS E HISTORIOGRAFIA
COORDENADOR:
HISTORIADORA CLARISSA
SOMMER (APERS)
A
recente história dos trabalhadores no Rio Grande do Sul: produções, arquivos e
debates (2005-2014)
Clarice
Gontarski Speranza (Pós-Doutoranda
em História – UFPel) e Micaele Irene Scheer (Doutoranda em História - UFRGS)
Palavras-chave: Historiografia -
História do trabalho - pesquisa histórica.
Resumo expandido:
A produção
em história do trabalho no Rio Grande do Sul apresentou grande crescimento nos
últimos 10 anos, na esteira da ampliação dos cursos de pós-graduação na área e
também em face da própria organização dos pesquisadores – na qual figuram, em
especial, as atividades do GT Mundos do Trabalho da ANPUH seção RS. Em um
levantamento preliminar, foram identificadas 81 dissertações ou teses versando
sobre temas relacionados ao universo do trabalho ou do trabalhador defendidas
por cinco programas de pós-graduação em História existentes no estado (UFRGS,
PUCRS, Unisinos, UFSM e UFPel) entre 2005 e 2014. O objetivo dessa comunicação
é expor resultados preliminares deste levantamento sobre as produções
acadêmicas relacionadas à história do trabalho no Rio Grande do Sul no âmbito
dos programas de pós-graduação. Além de um breve levantamento quantitativo,
serão discutidos os temas e períodos mais recorrentes da produção recente, bem
como ressaltados os principais debates em andamento. O levantamento também pretende
elencar, ao lado dos estudos mais frequentes, temas importantes que não recebem
a atenção dos pesquisadores do trabalho no Rio Grande do Sul, e destacar o
contexto no qual tais produções surgiram, com a ampliação do número e da
diversidade de arquivos sobre o trabalho na região e a atividade do GT enquanto
coletivo de pesquisadores. De fato, as novas produções em história do trabalho
surgem num contexto de ampliação de arquivos sobre o tema do trabalho
disponíveis aos pesquisadores, tanto em Porto Alegre quanto no interior do
estado. Uma das iniciativas mais importantes é a disponibilização de fontes do
Judiciário trabalhista, tanto junto ao Memorial do Trabalho no Rio Grande do
Sul (órgão do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região) quanto em centros de
pesquisa ligados a universidades, como o Núcleo de Documentação Histórica da
UFPel (que abriga todos as ações trabalhistas que tramitaram nas varas de
Pelotas desde sua fundação). Os processos judiciais trabalhistas têm se
constituído em exemplo de um movimento de alargamento e diversificação de
fontes, que incluem também documentação de empresas e arquivos relacionados a
movimentos sindicais e de categorias específicas de trabalhadores, muitos deles
disponibilizados digitalmente. Os eventos e reuniões promovidos pelo GT Mundos
do Trabalho no Rio Grande do Sul (nos anos inversos às jornadas nacionais e
seminários internacionais, realizados bienalmente) podem ser qualificados como
fatores determinantes na atração de novos pesquisadores e de aperfeiçoamento
dos mais experientes, com base no fomento de debates acadêmicos. Talvez por
este fator, observa-se uma diversificação dos temas abordados nas produções. Se
em 2001, Loner advertia que a maior parte da produção historiográfica da época
sobre trabalhadores gaúchos concentrava-se nos anos da Primeira República até a
década de 30 (LONER, 2001, p. 54), o recorte cronológico ampliou-se bastante
nos últimos anos, abarcando em especial o período pós-1940, no qual o interesse
volta-se a objetos variados – desde movimentos grevistas até a utilização do
arcabouço legal varguista como forma de garantir direitos, bem como a relação
do movimento sindical com partidos políticos. Da mesma forma, o trabalho
escravo (visto isoladamente ou em conjunto com o trabalho livre) tornou-se
referência obrigatória aos estudos do mundo do trabalho, ampliando-se o diálogo
e as trocas com as pesquisas centradas na escravidão, perspectiva que vai ao
encontro dos anseios de Lara, em artigo publicado em 1998, quando afirmou que a
maior parte dos autores da área se debruça sobre o trabalho livre assalariado,
adotando a “teoria da substituição” do escravo pelo imigrante. Batalha (2006),
assim como Lara, observou com pessimismo a situação dos estudos sobre história
do trabalho nos anos de 1990, postura que se altera em texto publicado em 2006.
Para Batalha, ocorreu uma ampliação de temas e uma abertura de abordagens e
enfoques. Classe social, trabalho assalariado e urbano são perspectivas que não
reinam mais absolutos, e estão sendo articuladas com: identidades, trabalho não
livre, trabalho autônomo, meio rural, etc. As reflexões desse autor são
pertinentes para este estudo, tais aspectos serão observados durante a análise
das produções acadêmicas no Rio Grande do Sul, entre 2005 e 2014. Em termos
metodológicos, destaca-se, além dos cuidados específicos para tipos
determinados de fonte, a ampla utilização da história oral, tendência que já se
avizinhava no início dos anos 2000, mas que se tornou mais marcante nos estudos
recentes, alimentada ainda mais pela ampliação do recorte cronológico e com a
aproximação a durações mais próximas do presente. O objetivo é articular a
pesquisa sobre a produção em história do trabalho no Rio Grande do Sul com
autores que se preocuparam em analisar a história do trabalho no Brasil e nesse
estado, com diferentes recortes cronológicos de analise, para observar os
avanços (ou não) desses estudos.
Referências:
BATALHA, Claudio H. de M. Os desafios atuais da história do trabalho. Anos 90, Porto Alegre, v. 13, n° 23/24, 2006, p. 87-104.
BATALHA, Claudio H. de M. Os desafios atuais da história do trabalho. Anos 90, Porto Alegre, v. 13, n° 23/24, 2006, p. 87-104.
LARA,
Sílvia. Escravidão, cidadania e história do trabalho no Brasil. Projeto História, São Paulo, v. 16,
1998, p. 25-38.
LONER, Beatriz. A história operária no Rio Grande do Sul. História-Unisinos, São Leopoldo, edição especial, 2001, p. 53-79.
LONER, Beatriz. A história operária no Rio Grande do Sul. História-Unisinos, São Leopoldo, edição especial, 2001, p. 53-79.
MATTOS,
Marcelo Badaró. Perspectivas e dilemas da produção historiográfica recente
sobre trabalhadores, sindicatos e estado no Brasil. Tempos históricos, Marechal Cândido Rondon, v. 05/06, 2003/2004, p.
11-34.
PETERSEN, Silvia R. F. A presença da história social do trabalho no ambiente acadêmico nas últimas décadas. Mesa redonda. Anais Eletrônicos do XXVI Simpósio Nacional da ANPUH. São Paulo, USP, 2011.
PETERSEN, Silvia R. F. A presença da história social do trabalho no ambiente acadêmico nas últimas décadas. Mesa redonda. Anais Eletrônicos do XXVI Simpósio Nacional da ANPUH. São Paulo, USP, 2011.
Fontes
para a História do Trabalho na região sul do Brasil
Lorena
Almeida Gill (Pós-Doutora
- UFPel)
Palavras-chave: Núcleo de
Documentação Histórica - Arquivo da Justiça do Trabalho - Acervo da Laneira
Resumo expandido:
Faz alguns
anos que o Núcleo de Documentação Histórica (NDH) da UFPel constituiu projeto
de pesquisa que versa sobre ofícios antigos ou em vias se extinção na região
sul do Rio Grande do Sul, visando compreender como os trabalhadores se colocam
em um mundo globalizado, o qual tende a fazer com que seus ofícios desapareçam
ou se transformem. Tal estudo tem trazido a possibilidade de se pensar e
ampliar as fontes de pesquisa para a História do Trabalho. O projeto trabalha
basicamente com duas metodologias: história oral temática e pesquisa
documental. A história oral temática busca, prioritariamente, construir
narrativas sobre um assunto em especial, neste caso as experiências no mundo do
trabalho. Já foram entrevistadas 60 pessoas, que possuem diferentes ofícios. A
partir destas narrativas e da análise de outros documentos foram feitos
trabalhos de conclusão de curso (Licenciatura e Bacharelado em História)
versando sobre os estivadores, sapateiros, alfaiates, tecelãs, motorneiros,
benzedores, parteiras e também foi publicado livro, organizado por Gill e
Scheer, em 2015, que foi intitulado “À Beira da Extinção: memórias de trabalhadores
cujos ofícios estão em vias de desaparecer”. Já a parte vinculada à pesquisa
documental, se esforça em higienizar, organizar, disponibilizar e analisar um
farto material, constituído por mais de 100 mil processos trabalhistas, os
quais abarcam o período temporal de 1941 e 1995. Tal acervo foi doado ao NDH,
em regime de comodato, no ano de 2006, tendo se iniciado o trabalho no ano de
2009, pois, em um primeiro momento, houve a necessidade de se organizar toda
uma infraestrutura que comportasse, de forma adequada, este grande volume de
papel. Somente no ano de 2015 foi possível se iniciar o armazenamento das
informações presentes nos processos trabalhistas em um Banco de Dados, feito
especialmente para as características existentes neste tipo de material. Não há
estimativa para a finalização do trabalho, tendo em vista o volume documental
existente. Atualmente 7 bolsistas de iniciação científica, de extensão e do
Programa de Educação Tutorial estão envolvidas com o trabalho, mas seriam
necessários muitos outros para que se avançasse na tarefa, buscando estabelecer
algumas séries por data, por exemplo. No Banco de Dados constam os seguintes
itens: Nome; Sobrenome; Endereço; Idade; Número da carteira de trabalho; Sexo;
Estado civil; Profissão; Benefício; Grau de Instrução. Logo, o cadastro
seguinte é a partir da opção “Processos”. Neste digitam-se nos seguintes
campos: Número do processo; Número da caixa; Datas de início e conclusão;
Demanda; Tipo de ação; Nome do Juiz; Primeira Vara ou Segunda Vara; Arquivado
ou não; Sentença justificativa; Tipos de demandantes; Conclusão; Requerentes;
Requeridos; Advogados. Na opção “Cadastros Básicos”, o usuário pode editar as
opções correspondentes a: Conclusão; Estado civil; Profissões; Tipos de ação;
Tipo de demandantes. E, por último, a opção “Pesquisa”, que é utilizada visando
realizar buscas. Cerca de 10 anos de processos foram lidos e resumidos e agora
estão sendo colocados no Banco de Dados. Nesta compilação alguns dados
preliminares aparecem: 85% dos casos se relacionam aos homens e apenas 15% às
mulheres. Quando se pensa sobre as demandas das mulheres, a maioria delas era
arquivada ou julgada improcedente, já no caso dos homens, na maioria das vezes,
era feito acordo. Após a implementação da Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT), as demandas aumentaram consideravelmente. A maioria dos processos teve
por requerente os trabalhadores, sendo estes geralmente operários de diversas
fábricas da cidade. Muitas vezes não foi mencionada sua função ou setor de
trabalho, até porque as atividades desenvolvidas nem sempre foram as
efetivamente realizadas. Dentre os operários que demandavam, a maioria tinha
postos menos remunerados, mas há alguns casos de chefes e subchefes. Grande
parte dos operários era brasileira, mas há situações de estrangeiros,
especialmente alemães, italianos e portugueses, algumas das imigrações
preponderantes em Pelotas. Nas poucas ocorrências em que a empresa demandava
era para demitir algum operário, por justa causa. São poucos os processos
plúrimos. Muitas vezes o trabalhador comparecia sozinho na primeira audiência
e, no meio dos autos, declarava quem era o seu procurador. A maioria dos
processos era resolvida em primeira instância.
As demandas mais frequentes por parte dos trabalhadores eram: pedidos de
indenização por demissão sem justa causa; pagamento de aviso prévio e
reintegração. Muitos eram solicitados na mesma reclamatória. Um outro acervo importante e que só
recentemente começou a ser organizado é o da Laneira Brasileira Sociedade
Anônima Indústria e Comércio, fundada no ano de 1945, em Porto Alegre e
transferida para Pelotas, entre os anos de 1948 e 1949. Tratou-se de importante
fábrica, que foi referência no comércio lanífero não só da cidade, como do
Estado do Rio Grande do Sul. Até o final de 1970 a fábrica se desenvolveu
adequadamente, sendo que a lã era vendida para várias regiões do Brasil, do
continente americano e europeu, mas a partir dos anos de 1990, começou a
diminuir suas atividades, entrando em processo falimentar nos anos de 2000.
Esta documentação passou a fazer parte do NDH, a partir de 2010, quando a
Universidade Federal de Pelotas recebeu o prédio, para fins acadêmicos. Naquele
momento, foram encontrados diversos materiais, que foram praticamente
divididos, tendo em vista as temáticas de interesse, entre o Núcleo e a
Fototeca Memória da UFPel, coordenada pela professora Francisca Michelon.
Atualmente é feita a higienização e organização dos documentos. Foram
localizadas fichas pessoais de trabalhadores da empresa, na qual eram anexados
o contrato de admissão, recibo de pagamento de salários, atestados médicos,
aviso de férias, pagamento de seguro saúde, caderneta de vacinação, dentre
outras. Há também uma farta documentação de caráter financeiro, além de
recortes de jornais os mais diversos, evidenciando algum fato ocorrido em
determinada época e processos judiciais de trabalhadores, especialmente aqueles
que envolviam algum acidente de trabalho. Além desse tipo de material, existem
diversas plantas arquitetônicas do interior da fábrica, que possuía 10.000
metros de área construída, com os seguintes espaços, que foram se constituindo
com o passar dos anos: classificação de lã, cardagem e preparo dos fios,
filatório, madeiras e conicaleiras, tingimento, depósito de materiais, caldeiras,
lavagem, depósito para produtos acabados, depósitos de lã, escritório. Constam
também na documentação uma escritura de alteração de contrato social de 1948
(troca de nome social da Laneira) e uma escritura de venda de um galpão na
Avenida Vinte de Setembro.
Os
trabalhadores rurais no acervo da Delegacia Regional do Trabalho do Rio Grande
do Sul (1933-1943)
Aristeu
Elisandro Machado Lopes (Doutor em
História - UFPel)
Palavras-chave: trabalhadores rurais
- Delegacia Regional do Trabalho - Carteira Profissional
Resumo expandido:
O Núcleo de
Documentação Histórica da Universidade Federal de Pelotas possui, entre seus
acervos, os documentos da Inspetoria Regional do Trabalho do Rio Grande do Sul,
a qual foi estabelecida pelo Departamento Nacional do Trabalho em 1932 e em
1940 transformada em Delegacia Regional do Trabalho. A DRT era o órgão
responsável por emitir a carteira profissional destinada às garantias dos
direitos dos trabalhadores. O estabelecimento da carteira foi parte inicial e
importante da legislação social para o trabalhador brasileiro, a qual seria
confirmada mais tarde com a Consolidação das Leis do Trabalho. A carteira,
assim, foi uma “criação do pós-30 e documento por excelência do novo regime,
traduzia o tipo de relação entre cidadão e estado que se desejava construir”.
(GOMES, 1988: 242). Antes da emissão o trabalhador declarava várias informações
pessoais e profissionais, as quais eram anotadas na ficha de qualificação
profissional ou também chamada ficha espelho. Os dados declarados pelo
trabalhador permitem identificar a sua cor e seus dados antropométricos, ano de
nascimento, grau de instrução, sua profissão e o nome do estabelecimento no
qual trabalhava, os nomes dos pais, a cidade de nascimento, informações sobre
dependentes, sua filiação sindical, o ano em que solicitou a carteira, entre
outros dados relevantes, naquele momento, para a confecção da carteira
profissional (LOPES; JAQUES, 2015). O acervo é constituído por essas fichas num
total de 627.213 encadernadas ou, então, soltas. A documentação corresponde aos
anos entre 1933 e 1968 e estão distribuídas em 1.053 caixas de arquivo
permanente. Em relação as possibilidades de consulta, ressalta-se que os
projetos de pesquisa desenvolvidos com o acervo já possibilitaram a digitação
das informações das fichas em um banco de dados. Esse banco permite múltiplos
cruzamentos dos dados facilitando a pesquisa e possibilitando traçar o perfil
do trabalhador com carteira nos primeiros anos do governo getulista no Rio
Grande do Sul. Atualmente, já estão digitadas no banco as informações de todas
as fichas entre os anos de 1933 e 1943 e atualmente está em processo de
digitação os dados de 1944. O Total das informações digitadas já representam
dados de 44 mil fichas. O objetivo pretendido nesta comunicação se refere a
apresentação de uma das possibilidades de pesquisa proporcionadas pelas fichas
e com o cruzamento das informações no banco de dados. Como ressaltado, cruzar
as informações das fichas já digitadas permite compreender o perfil dos trabalhadores
do Rio Grande do Sul a partir de um universo variado de possibilidades, seja
através de uma determinada profissão, seja através da análise do grau de
instrução, por exemplo. Assim, objetiva-se averiguar a presença de informações
sobre os trabalhadores rurais que solicitaram carteira profissional logo após a
criação do novo documento. A maioria das informações sobre as profissões dos
trabalhadores revela que estavam ligados a ocupações urbanas, como o trabalho
em fábricas, construção civil, estabelecimentos comerciais, frigoríficos e, uma
parte considerável, de trabalhadores manuais como sapateiros, barbeiros,
domésticas, pedreiros, cozinheiros, entre muitos outros. A metodologia
empregada na pesquisa, contudo, identificou uma parcela de trabalhadores
relacionados às atividades rurais: 134 trabalhadores que declararam sua
profissão com agricultores. Alguns apontavam o local de trabalho, como
chácaras, indústria de adubos, produção de leite e lavoura de arroz; outros
declaravam-se como trabalhadores eventuais ou, ainda, como desempregados.
A comunicação pretende apresentar não apenas os resultados apontados acima, mas também abordar o perfil desse trabalhador rural, que se declarava como agricultor, a partir das informações declaradas. Assim sendo, a pesquisa já demonstrou que em um estado com forte ligação histórica com as atividades do campo o trabalhador rural ainda carecia de uma maior abrangência das leis criadas para garantir os direitos dos trabalhadores nos anos 1930. Contudo, uma pequena parcela já buscava por esses direitos através da carteira profissional. Em outras palavras, se é possível apontar que o trabalhador urbano e vinculado, sobretudo, às atividades fabris estava inserido no universo das leis trabalhistas, o trabalhador rural ainda necessitava atingir um patamar semelhante. Apesar desta consideração, as fichas dos trabalhadores que se declaravam como agricultores demonstram que o caminho já estava sendo percorrido nos anos 1930.
A comunicação pretende apresentar não apenas os resultados apontados acima, mas também abordar o perfil desse trabalhador rural, que se declarava como agricultor, a partir das informações declaradas. Assim sendo, a pesquisa já demonstrou que em um estado com forte ligação histórica com as atividades do campo o trabalhador rural ainda carecia de uma maior abrangência das leis criadas para garantir os direitos dos trabalhadores nos anos 1930. Contudo, uma pequena parcela já buscava por esses direitos através da carteira profissional. Em outras palavras, se é possível apontar que o trabalhador urbano e vinculado, sobretudo, às atividades fabris estava inserido no universo das leis trabalhistas, o trabalhador rural ainda necessitava atingir um patamar semelhante. Apesar desta consideração, as fichas dos trabalhadores que se declaravam como agricultores demonstram que o caminho já estava sendo percorrido nos anos 1930.
Referências
bibliográficas:
GOMES,
Angela de Castro. A invenção do
trabalhismo. Rio de Janeiro: IUPERJ, 1988.
LOPES, Aristeu Elisandro Machado; JAQUES,
Biane Peverada. Os trabalhadores gráficos e os ofícios em extinção: tipógrafos
e litógrafos no acervo da Delegacia Regional do Trabalho do Rio Grande do Sul,
1933-1943. In: GILL, Lorena Almeida; SCHEER, Micaele. (Orgs.). À beira da extinção: memórias de
trabalhadores cujos ofícios estão em vias de desaparecer. Pelotas: Editora da
UFPel, 2015, p.15-28.
O ainda
desconhecido acervo da Laneira S/A: possibilidades de pesquisa
Gabriela Brum Rosselli (Graduanda em História -
UFPel)
Palavras-chave: Laneira – lã -
fábrica
Resumo expandido:
A fábrica de
lã foi construída no ano de 1945, na cidade de Porto Alegre e registrada com o
nome de Laneira Brasileira Ltda., entretanto foi no dia 8 de dezembro do ano de
1948, que ocorreu a mudança de nome para Laneira Brasileira Sociedade Anônima
Indústria e Comércio. Entre 1948 e 1949, a empresa iniciou seu processo de
transferência para a cidade de Pelotas, muito em função da privilegiada
localização geográfica da cidade nas rotas de comércio de lã no estado . A
empresa foi pioneira na sua especialidade, a partir do tratamento da lã
introduzido pelo seu fundador e presidente, o Sr. Moises Llobera Gutes. A
fábrica localizava-se na Avenida Duque de Caxias nº144, no bairro Fragata. O
local acabou se tornando um marco no setor de lã da região, porém em 2003
declarou falência e em abril do mesmo ano fechou suas portas. Em 2010 a
Universidade Federal de Pelotas adquiriu o prédio onde se encontrava a Laneira.
Dentro dele havia resquícios de um arquivo descartado e em péssimo estado. Foi
na busca por reconstruir a história e a memória da instituição, que o Núcleo de
Documentação Histórica (NDH) o inseriu aos demais acervos que o compunham. A
constituição do acervo da Laneira visa salvaguardar a identidade da empresa e a
memória dos trabalhadores, através de projetos de organização e higienização,
fazendo com que todos os documentos fiquem à disposição de pesquisadores e
demais interessados. O arquivo tem caráter permanente e possui a função de
conservar, reunir e facilitar a consulta da documentação, tornando-a acessível
para a sociedade. Os seus documentos ganham significado à medida que são
utilizados como informação pela sociedade, servindo de subsídios para a
interpretação histórica. Principalmente e acima de tudo, o arquivo histórico
busca garantir a manutenção da memória e da identidade dos trabalhadores da
Laneira. A metodologia empregada no projeto é constituída, primeiramente, da
análise documental de fontes primárias, que são documentos do acervo. A unidade
de análise desde projeto se refere a uma investigação documental no acervo
físico do lanifício, a fim de validar possíveis organizações para áreas de
pesquisa contidas nele. Segundo Le Goff (2003), o documento é um produto da
sociedade que o produziu. Diante disso, sua preservação e disponibilização
tornam-se primordial para a manutenção da memória coletiva. É através do
contato direto com as fontes primárias, que se fez necessário, inicialmente, um
projeto de separação do arquivo em décadas e logo o início da higienização,
possibilitando a identificação de diversificadas fontes, como as
administrativas, jurídicas e de gestão de pessoas. Podem-se encontrar registros
de empregados contendo número de ordem, função, vencimento inicial, forma de
pagamento, horário de trabalho, data de admissão, entre outros; fichas de
empregados com exames médicos, atestados, contracheques, recibos de pagamento e
abono de férias, contrato de trabalho, histórico do trabalhador; processos
judiciais. A maioria dos documentos referentes a processos são de trabalhadores
contra a fábrica. Há ainda projetos e plantas com desenhos, projetos de
máquinas, escrituras de terrenos, jornais de 1960/1970 relacionados a direitos
trabalhistas; livros de Contabilidade da década de 1950; folhas de pagamento
contendo a relação do trabalhador e seu salário. O acervo também conta com
outras fontes, porém em menor quantidade como documentos de admissão, demissão
e controle dos funcionários, no que diz respeito à disciplina. Importante
salientar que esses são, inicialmente, os documentos já vistos, entretanto o
acervo está em processo de organização, por isso há muito que se descobrir,
especialmente no campo das fontes e a ligação que se possa fazer entre este
acervo e os outros existentes, especialmente no acervo do NDH, como a Justiça
do Trabalho e a DRT. Dessa forma, criaram-se métodos para a organização e
catalogação do acervo documental que vão ao encontro de regras arquivísticas,
as quais são evidenciadas por autores como Bellotto (2006); Schellenberg (2005)
e Paes (2008). O projeto visa, acima de tudo, disponibilizar o acervo para
consulta, pois como afirma Lopes (2002, p.178) “os arquivos tornam-se objetos
culturais quando são socialmente usados, caso contrário, é apenas um patrimônio
físico que está ocupando espaço”. De acordo com Barroso (2002, p. 202), a
função básica de um arquivo é recolher, conservar e servir. O objetivo primário
na organização deste acervo é oportunizar o seu fácil acesso aos pesquisadores
e à população em geral.
Outrora, mais precisamente no século XIX, considerava-se o documento histórico como fonte para a busca da verdade. Paul Veyne (1995, p.12) afirma: “Por essência, a história é o conhecimento mediante os documentos”. Para isso, o historiador “deveria valer-se de fontes marcadas pela objetividade, neutralidade, fidedignidade, credibilidade, além de suficientemente distanciadas de seu próprio tempo” (LUCA, 2008. p 112).
A partir da exploração documental feita, é possível se apropriar de informações contidas no mais novo fundo dos funcionários, o qual se divide por décadas e ano. Também está sendo construído um método de registro desses funcionários, por meio de uma listagem no Excel, constando o nome e a ocupação de cada trabalhador, a fim de facilitar as futuras pesquisas. Através de procedimentos metodológicos, é possível afirmar a existência de menores de idade naquele espaço; a ocorrência de acidentes de trabalho, a prática de serem instaurados inúmeros processos de trabalhadores contra a indústria, visando a garantia de direitos, entre outros aspectos. O objetivo do trabalho é a divulgação científica do acervo, a partir da caracterização da documentação como um campo aberto para novas pesquisas na área de humanas. Busca-se também motivar os acadêmicos a conhecer outros tipos de acervos, diferentes dos já constituídos e trabalhar com temas diversos, como a saúde, por exemplo. Através da análise dos documentos é possível traçar ainda estudos sobre a economia da cidade, os quais permitem abordar o desenvolvimento industrial existente e seu posterior declínio. A importância desse projeto parte do pressuposto de que esse é um acervo relativamente novo e ainda não se tem um número significativo de pesquisas sobre ele, ou seja, ainda é uma documentação desconhecida pela comunidade acadêmica e até mesmo por seus trabalhadores. É um arquivo amplo, o qual possibilita uma vasta produção, a partir de diferentes ramos do conhecimento como História, Direito, Sociologia, Economia, entre outros. Dessa forma, é extremamente importante o trabalho do NDH/UFPel, ao salvaguardar este tipo de documentação, protegendo os materiais existentes, ao mesmo tempo que possibilitando acesso a uma variada gama de informações.
Outrora, mais precisamente no século XIX, considerava-se o documento histórico como fonte para a busca da verdade. Paul Veyne (1995, p.12) afirma: “Por essência, a história é o conhecimento mediante os documentos”. Para isso, o historiador “deveria valer-se de fontes marcadas pela objetividade, neutralidade, fidedignidade, credibilidade, além de suficientemente distanciadas de seu próprio tempo” (LUCA, 2008. p 112).
A partir da exploração documental feita, é possível se apropriar de informações contidas no mais novo fundo dos funcionários, o qual se divide por décadas e ano. Também está sendo construído um método de registro desses funcionários, por meio de uma listagem no Excel, constando o nome e a ocupação de cada trabalhador, a fim de facilitar as futuras pesquisas. Através de procedimentos metodológicos, é possível afirmar a existência de menores de idade naquele espaço; a ocorrência de acidentes de trabalho, a prática de serem instaurados inúmeros processos de trabalhadores contra a indústria, visando a garantia de direitos, entre outros aspectos. O objetivo do trabalho é a divulgação científica do acervo, a partir da caracterização da documentação como um campo aberto para novas pesquisas na área de humanas. Busca-se também motivar os acadêmicos a conhecer outros tipos de acervos, diferentes dos já constituídos e trabalhar com temas diversos, como a saúde, por exemplo. Através da análise dos documentos é possível traçar ainda estudos sobre a economia da cidade, os quais permitem abordar o desenvolvimento industrial existente e seu posterior declínio. A importância desse projeto parte do pressuposto de que esse é um acervo relativamente novo e ainda não se tem um número significativo de pesquisas sobre ele, ou seja, ainda é uma documentação desconhecida pela comunidade acadêmica e até mesmo por seus trabalhadores. É um arquivo amplo, o qual possibilita uma vasta produção, a partir de diferentes ramos do conhecimento como História, Direito, Sociologia, Economia, entre outros. Dessa forma, é extremamente importante o trabalho do NDH/UFPel, ao salvaguardar este tipo de documentação, protegendo os materiais existentes, ao mesmo tempo que possibilitando acesso a uma variada gama de informações.
Referências
Bibliográficas:
Acervo do
NDH. Disponível em: <http://www2.ufpel.edu.br/ich/ndh/> Acesso: 10 de
Jul, 2015.
BELLOTTO, Heloísa. Arquivos permanentes: tratamento documental. Rio de Janeiro: FGV, 2004.
BARROSO, Vera Lucia Maciel. Arquivos e documentos textuais: antigos e novos desafios. Ciências e letras, Porto Alegre, n. 31, p. 197- 206, 2002.
BELLOTTO, Heloísa. Arquivos permanentes: tratamento documental. Rio de Janeiro: FGV, 2004.
BARROSO, Vera Lucia Maciel. Arquivos e documentos textuais: antigos e novos desafios. Ciências e letras, Porto Alegre, n. 31, p. 197- 206, 2002.
GILL, L.A.
LONER, B.A. O Núcleo de Documentação Histórica da UFPel e seus acervos sobre
questões do trabalho. Revista Esboços,
Florianópolis, v. 21, n. 31, p. 109-123, ago. 2014. Disponivél em:
<”https://periodicos.ufsc.br/index.php/esbocos/article/view/2175-7976.2014v21n31p109/28464.’’>
Acesso: 12 de Jul, 2015.
LEGOFF,
Jacques . Documento/monumento. IN: LEGOFF, Jacques. História e memória. São Paulo: Ed. UNICAMP, 2003. p. 525 – 541
LOPES, Luis
Carlos. O lugar dos arquivos na cultura brasileira. Ciências e Letras, Porto Alegre, n.31, jan/jun. 2002.
MELO, Chanaísa. Fragmentos da Memória de uma Fábrica na Coleção Fotográfica Laneira Brasileira Sociedade Anônima. Pelotas: UFPel, 2012, Dissertação de Mestrado no Programa de Pós-Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural. Disponível em: <” http://guaiaca.ufpel.edu.br/bitstream/123456789/1036/1/Chanaisa_Melo_Dissertacao.pdf”> Acesso: 10 de Jul, 2015.
MELO, Chanaísa. Fragmentos da Memória de uma Fábrica na Coleção Fotográfica Laneira Brasileira Sociedade Anônima. Pelotas: UFPel, 2012, Dissertação de Mestrado no Programa de Pós-Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural. Disponível em: <” http://guaiaca.ufpel.edu.br/bitstream/123456789/1036/1/Chanaisa_Melo_Dissertacao.pdf”> Acesso: 10 de Jul, 2015.
POLLAK,
Michael. Memória e Identidade Social.
Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 5, n. 10, 1992, p. 200-212.