Sessão Coordenada 05 TRABALHO, IMPRENSA E EDUCAÇÃO

RESUMOS EXPANDIDOS DAS SESSÕES COORDENADAS

Dia 27/10/2015 – Terça-feira

13h30 às 15h30 – Sessão Coordenada 05
TRABALHO, IMPRENSA E EDUCAÇÃO
COORDENADOR: PROF. DR. MARCUS VINÍCIUS DE FREITAS ROSA (UFRGS)

Construindo redes sociais, identidades e espaços políticos: a imprensa operária no Amazonas (1890-1928)
Luciano Everton Costa Teles (Doutorando em História - UEA)
Palavras-chave: História do Trabalho - imprensa operária - Amazonas

Resumo expandido:
Seja como objeto e/ou fonte de estudo, a imprensa operária se mostrou um filão documental e, desde a década de 1980, quando os estudos ligados ao mundo do trabalho se ampliaram e se intensificaram, atraiu pesquisadores de diversas regiões do Brasil que buscaram explorar suas potencialidades utilizando diferentes perspectivas, que iam desde uma análise do discurso, passando pelo uso dos conceitos de ideologia, memória, representações, identidades e gênero. As temáticas eram diversificadas e, em grande medida, sugeridas pelos próprios assuntos elencados nos jornais. Certamente que alguns desses pesquisadores que utilizaram os jornais na pesquisa histórica, como Ferreira (1988), Zicman (1985), Rago (1985) e Jardim (1990), para citar apenas alguns exemplos, não deixaram de apontar caminhos de pesquisa que acabaram atraindo novos estudiosos. Atualmente, com o movimento no âmbito da disciplina histórica de utilização de novos conceitos, metodologias e elaboração de novas problemáticas e abordagens, a reflexão sobre a imprensa operária têm se mostrado ainda distante de um processo de esgotamento. Pelo contrário, recentemente pesquisadores da área vêm salientando que os estudos de história operária necessitam de uma proposta que tomem a imprensa operária como tema e espaço central da análise e reflexão histórica (CRUZ, 2000). Petersen, por exemplo, assinalou que “alguns aspectos da cultura operária podem ganhar um peso relativo diferente do que decorre de uma análise fragmentada” e destaca o caso da importância concedida à imprensa, que, para a autora, “provavelmente será redimensionada quando pudermos recompor a rede de sua circulação pelo país” (1995, p. 135). Nesta esteira, a imprensa operária passou a ser retomada e percebida sob a ótica de “redes de troca de informação”, “corredor de informações”, etc. Com o objetivo de demonstrar o processo de constituição de redes sociais através da imprensa operária no Amazonas, elaborou-se um caminho a ser seguido, explicitado abaixo: 1) Identificar o grupo social que está por traz do jornal, contextualizando-o no sentido de investigar sua composição social, bem como trajetórias, contatos e vínculos estabelecidos internamente e externamente; 2) Em articulação com o que está acima, identificar o nome (em geral do militante operário, pois a pesquisa se insere neste âmbito) e, através dele, manusear os jornais com a finalidade de coletar dados que possam de alguma forma explicitar a “rede de relações” do indivíduo, do grupo e do jornal que ele faz parte; 3) Perceber que no jornal existem conteúdos que foram alimentados não somente pela trajetória e experiência dos seus responsáveis, mas também absorvidos e/ou estimulados por conexões com outros grupos presentes no Brasil e no mundo, fruto da própria circulação e dinâmica das folhas operárias. Estes contatos estão expressos no jornal, ainda que em alguns casos, de forma fragmentada; 4) Reconhecer que, em alguns casos, os jornais publicavam uma lista com os nomes dos contatos. Isto era feito porque eram enviadas remessas para eles e vice-versa. Esse movimento se coloca como salutar para esse processo; 5) Buscar, no próprio jornal, informações sobre a circulação de lideranças (cidades, estados, regiões, etc.); 6) Recolher alguns indicativos, em geral fragmentários também, que indicavam esses contatos, relações, vínculos e interações. Todavia, como realçou Boissevan (1979, p. 392-393), as redes sociais sozinhas dizem muito pouco. Cabe então não somente identificá-las como também demonstrá-las em ação. Num primeiro momento não se pode deixar de mencionar que essas redes sociais possibilitaram a circulação de ideias que eram referências para interpretações da sociedade, modelos organizativos e ações desenvolvidas no interior do mundo do trabalho. Da mesma forma, foram instrumentos para defender projetos, inclusive de identidade operária. Neste sentido, ao lado da análise de rede, procurar-se-á visualizar as lutas travadas por projetos de identidades intra-extra grupos (operários x patrões, operários x operários) a partir de imposições de percepção e de categorias de percepção que procuravam determinar o lugar social dos mesmos. O fundamental é, “em oposição a”, apreender o que é instituído – considerado como “resultante, num dado momento, para fazer existir ou inexistir o que existe” – e as representações – entendida “como enunciados performativos que pretendem que aconteça aquilo que enunciam” (BOURDIEU, 1989, p. 119). Por outro lado, a categoria de esfera pública, na perspectiva habermasiana, possibilitará “fechar” a análise em direção a responder a questão central do trabalho. Pois para Habermas, a esfera pública se constitui, da conexão entre mundo da vida e sistema, (um reverberando no outro), como espaço social da prática comunicativa, onde opinião e vontade vinham a público através de uma rede de comunicação e articulação de fluxos comunicativos (HABERMAS, 2003; LUBENOW, 2007, p. 108). Enfim, o que se busca é responder o problema central da pesquisa que consiste em demonstrar, através das folhas operárias, as bases, estabelecidas pelos militantes responsáveis por essas folhas, da formação de complexas redes sociais e, no seio dessas redes, a elaboração de projetos de identidades operárias que, de forma imbricada, tinham como finalidade a construção de espaços políticos legítimos de mudança social. Com efeito, partiu-se do pressuposto de que os jornais operários, animados por militantes cuja atividade possibilitava costurar contatos e relações com lideranças de outros estados e até países, o que produzia conexões e interações espaciais significativas, promoviam fortes movimentações de ideias sociais e políticas. Nesta esteira, nos jornais, havia o esforço em elaborar projetos de construção de identidades operárias que caminhavam em duas direções: o primeiro, de unidade do operariado em geral, vislumbrava reconhecimento e distinção em relação a outros setores sociais (patronato e poder público) e tinha como pilar a posição de que o trabalhador era o elemento propulsor da sociedade, criador da riqueza e do “progresso” de um país, o segundo, de diferenças e distinções internas, evidenciava a diversidade existente no mundo do trabalho. Por fim, essas formações de complexas redes sociais e as construções de projetos de identidades direcionados aos operariados em geral, sugiram no sentido de promover a constituição de espaços políticos que concorressem para mudanças sociais.
Referências:
BOISSEVAIN, Jeremy. Network Analysis: a reappraisal. In: Current Anthropology. The University of Chicago Press. v. 20, n. 2, Jun, 1979, p. 392-394.
BOURDIEU, Pierre. A identidade e a representação. Elementos para uma reflexão crítica sobre a ideia de região. In: Ibidem. O poder simbólico. Lisboa: Difel, 1989.
CRUZ, Heloisa de Faria. São Paulo em papel e tinta: periodismo e vida urbana (1890-1915). São Paulo: EDUC, 2000.
FERREIRA, Maria Nazareth. Imprensa Operária no Brasil. São Paulo: Ática, 1988.
HABERMAS, Jurgen. Mudança estrutural da esfera pública: investigações quanto a uma categoria da sociedade burguesa. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003.
JARDIM, Jorge Luiz Pastorisa. Comunicação e militância: a imprensa operária no Rio Grande do Sul (1892-1923). Dissertação de Mestrado: PUC-RS, 1990.
LUBENOW, A categoria de esfera pública em Jürgen Habermas: para uma reconstrução da autocrítica. Cadernos de Ética e Filosofia Política, n. 10, p. 103-123, 1/2007.
PERTERSEN, Sílvia Regina Ferraz. Cruzando fronteiras: as pesquisas regionais e a história operária brasileira. Anos 90. Porto Alegre, n. 3, p. 129-153, jun./1995.
RAGO, Margareth. Do cabaré ao lar: a utopia da cidade disciplinar, Brasil (1890-1930). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.
ZICMAN, Renée. História através da imprensa: algumas considerações metodológicas. Projeto História, nº 4. São Paulo: Educ, 1985, p. 89-102.

O papel de construção desempenhado pelos jornais O Exemplo e A Alvorada na formação de uma identidade negra e operária
Ângela Pereira Oliveira (Mestranda em História – UFPel)
Palavras-chave: imprensa negra - imprensa operária - pós-abolição
Resumo expandido:
Propondo uma articulação entre história do trabalho e da cultura, dentro do contexto do pós-abolição, se busca dar ouvidos ao grupo negro. Uma vez que esses ainda possuem uma história bastante estereotipada. Por isso, ao longo desta pesquisa buscamos dialogar com a capacidade intelectual e organizativa mantida pelos negros gaúchos através de sua imprensa, destacando sempre o seu protagonismo. Nesse sentido, a utilização de alguns autores nos auxilia na construção desta proposta. Entre eles, temos, por exemplo, Thompson (2001). Uma vez que o autor ao mesmo que realiza uma abordagem marxista também apresenta uma maior valorização do aspecto cultural em suas análises. Também privilegiamos um diálogo com autores que analisam a imprensa negra que teve sua circulação nos mais diversos Estados brasileiros. Como por exemplo, Guimarães (2003) e Domingues (2008). Uma vez que estes, além de possibilitar entender as demandas do pós-abolição, permitem notar alguns comportamentos similares entre essa imprensa. Como fontes o presente trabalho utiliza-se, principalmente, de dois jornais de imprensa negra e operária que circularam no Estado do Rio Grande do Sul, no início do século XX. Essa imprensa é assim denominada influenciada pelo fato de que “a imprensa negra, de certa forma, se espelhou na atuação da imprensa operária” (CARVALHO, 2009: 129). Esses jornais selecionados para a pesquisa se diferenciam dos demais que circularam no Rio Grande do Sul. O primeiro, O Exemplo, editado na cidade de Porto Alegre, foi o precursor entre a imprensa negra que se estabeleceu no referido Estado. O Exemplo nasceu no ano de 1892 e suas atividades só foram finalizadas no ano de 1930. O jornal deixou de circular por diferentes momentos devido a problemas financeiros, ainda assim conseguiu manter-se por quase 38 anos. Já o segundo jornal estudado, A Alvorada, era editado na cidade de Pelotas, situada na região sul do Rio Grande do Sul. Esse tem a sua fundação em 1907 e só finalizaria suas atividades 58 anos após, no ano de 1965. Da mesma forma que O Exemplo, o jornal A Alvorada, também passou por problemas financeiros, o que ocasionou em diversas interrupções. Este estudo é parte da construção da dissertação da autora que visa tratar como os negros conseguem, através desse recurso comunicativo, que é a imprensa negra, construir um mecanismo de defesa étnica. E, como esse mecanismo consegue ou não se sobrepor a outras questões identitárias. Como hipótese tem se levantado que a identidade étnica construída nesses jornais se sobrepõe a identidade de classe. Assim, se busca demonstrar que a classe não está acima de outras identificações. Logo, o objetivo buscado permeia na apresentação de como se deu a construção dessa proposta. E, apontar a forma como a autora tem atuado no desenvolvimento e construção de sua dissertação. A fim de dialogar sobre possibilidades na metodologia e nas formas de abordagem. Também, se buscara dentro de ambos os jornais, O Exemplo e o A Alvorada, como eles apresentam os chamamentos de união para seus leitores e como constroem uma consciência em relação à classe e, em defesa do seu grupo étnico. Pretende-se estabelecer um diálogo entre os referenciais teóricos e as fontes. E, para isso busca-se trazer para o conhecimento do leitor o posicionamento e a própria escrita do jornal. Para a construção desta pesquisa foram escolhidos os anos de 1919 a 1935. Essa seleção foi influenciada pela disponibilidade de consulta do material escolhido.
Referências:
CARVALHO, Gilmar Luiz de. A imprensa negra paulista entre 1915 e 1937: características, mudanças e permanências. São Paulo, 2009. Mestrado em História Econômica - Universidade de São Paulo.
DOMINGUES, Petrônio José. A nova abolição. São Paulo: Selo Negro, 2008.
GUIMARÃES, Antônio Sérgio Alfredo. Notas sobre raça, cultura e identidade na imprensa negra de São Paulo e Rio de Janeiro, 1925-1950. Afro-Ásia, núm. 30, 2003, pp. 247-269. Universidade Federal da Bahia. Bahía, Brasil. THOMPSON, E. P. As peculiaridades dos ingleses e outros artigos. São Paulo: EDUNICAMP, 2001.

Defender a classe e educar pel'O Exemplo: imprensa negra e a luta pela instrução em Porto Alegre (1892-1911)
Melina Kleinert Perussatto (Doutoranda em História – UFRGS)
Palavras-chave: pós-abolição - imprensa negra - instrução
Resumo expandido:
Na década de 1930, o sociólogo e historiador negro estadunidense W.E.B. Du Bois apontou para a necessidade de uma descentralização na história do trabalho que considerasse as relações entre raça e classe, problematizando os motivos pelos quais o trabalhador branco se tornou o trabalhador universal. Nesse sentido, a proposta dessa comunicação consiste em problematizar as relações entre raça e classe desde a perspectiva de intelectuais reunidos em torno da imprensa negra de Porto Alegre, na virada do século XIX para o XX. Para tanto, parto do programa que atravessou as quase quatro décadas de existência do jornal O Exemplo, sintetizado em seu número de abertura em duas ideias-chave: “a defesa de nossa classe e o aperfeiçoamento  de nossos medíocres conhecimentos”. Sem estabelecer hierarquias entre raça e classe, procuro apreender em minha pesquisa de doutoramento as circunstâncias nas quais raça e/ou classe eram acionadas na busca pela concretização do programa do hebdomadário, bem como a polissemia que caracterizava o próprio uso desses dois termos. Uma das estratégias de análise reside em observar as interlocuções que estabeleciam com seu público-alvo: os trabalhadores e trabalhadoras negras. Semelhante a outro postulado de W.E.B. Du Bois, os jornalistas d’O Exemplo se colocavam como lideranças do povo negro na busca pela redenção da sua raça em uma sociedade marcada por, pelo menos, dois processos simultâneos, entrecruzados e profundamente racializados: a organização do mercado de trabalho livre e a edificação da nação republicana. Para Du Bois, a redenção da raça deveria passar necessariamente por uma educação verdadeiramente emancipadora, e não apenas instrumental. Somente dessa forma a barreira racial, identificada por esse intelectual com o problema do século XX, seria extirpada. A crença de que a instrução seria uma via para a redenção da raça também perpassou os processos de construção da liberdade e da cidadania negra no pós-abolição em outras geografias (Gomes, 2005; Pinto, 2010; Pereira, 2013).
Na primeira fase do jornal (1892 a 1897), os jornalistas acionaram vários dispositivos constitucionais para denunciarem o preconceito de cor (também nomeado de preconceito de raça) que afetava seu grupo sociorracial em diferentes espaços. Espiridião Calisto, que na fase seguinte tornou-se diretor de redação, denunciou suas experiências de segregação escolar para explicitar que era o racismo a causa do desinteresse pela matrícula e da evasão das crianças negras. Nesse empreendimento, era fundamental que os pais insistissem na permanência de seus filhos nas escolas e, sobretudo, que denunciassem a violação do princípio constitucional da igualdade. Na segunda fase (1902 a 1911) o jornal assumiu um caráter mais propositivo diante das desilusões em relação ao Estado. Já na primeira edição os redatores-chefes Espiridião Calisto (barbeiro e depois funcionário púbico) e Tácito Pires (professor) anunciaram o projeto de criação da Escola Noturna O Exemplo, “visando o levantamento intelectual das classes desprotegidas” e aberta a todos os trabalhadores sem distinção de “cor, sexo, nacionalidade, princípios religiosos ou profissão”. O projeto não chegou a concretizar-se e entre os motivos citados estava a pouca adesão à causa, evidenciando mais uma vez os limites enfrentados por esse coletivo na interlocução com seu público-alvo principal. Essa tentativa, apesar de frustrada, possibilita a apreensão das intersecções entre raça e classe presentes nas experiências e no pensamento desses sujeitos.  Na segunda fase outras estratégias foram acionadas, merecendo destaque o diálogo com as associações negras e a proposta de criação da Liga das Associações dos Homens de Cor no Rio Grande do Sul. Dentre outros fins, ela seria mantenedora de sociedades recreativas, beneficentes e instrutivas (Rosa, 2014), ou seja, apesar de criticarem a pouca atenção dada à instrução, reconheciam a importância da sociabilidade proporcionada pelas associações e viam nelas espaços possíveis para a concretização de seu projeto de levantamento intelectual "classe dos homens de cor preta”. Concretamente, registrou-se a fundação do Grêmio Dramático José do Patrocínio, que chegou a funcionar junto à redação d’O Exemplo, com a proposta de educar pelo teatro (especialmente com a encenação de peças do dramaturgo negro sul-rio-grandense Arthur Rocha, falecido às vésperas da abolição), além de outras atividades (Bohrer, 2013). A maioria dessas propostas e iniciativas era aberta a todos, porém o diálogo estreito com as associações negras aponta mais uma vez para as especificidades que marcavam o projeto d’O Exemplo e as experiências compartilhadas por seu grupo (e pela massa de trabalhadores e trabalhadoras negras, de um modo geral) dentro da classe trabalhadora.
Referências:
Jornal O Exemplo, 1892 a 1911 (Acervos diversos).
BOHRER, Felipe Rodrigues. A música na cadência da história: raça, classe e cultura em Porto Alegre no pós-abolição. Dissertação de Mestrado – Programa de Pós-graduação em História. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. UFRGS, Porto Alegre, 2013, 234 p.
DU BOIS, W.E.B. As Almas da Gente Negra. Editora Lacerda, 1999.
DU BOIS, W.E.B. Black Reconstruction in America, Nova York, 1992.
GOMES, Flávio. Negros e Política (1888-1937). Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2005.
MÜLLER, Liane. As contas do meu rosário são balas de artilharia. Porto Alegre: Pragmatha, 2013.
PEREIRA, Amilcar. O Mundo Negro: relações raciais e a constituição do movimento negro contemporâneo no Brasil. Rio de Janeiro: Pallas/FAPERJ, 2013.
PINTO, Ana Flávia Magalhães. Imprensa negra no Brasil do século XIX. São Paulo: Selo Negro, 2010.
ROSA, Marcus Vinícius de Freitas. Além da invisibilidade: história social do racismo em Porto Alegre (1884-1918). Tese de doutorado - Programa de Pós-graduação em História. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. UNICAMP, Campinas, 2014, 312 p.
SANTOS, José Antônio. Prisioneiros da história: Trajetórias intelectuais na imprensa negra meridional. Tese de Doutorado - Programa de Pós-graduação em História. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. PUCRS, Porto Alegre, 2011, 281 p.
ROEDIGER, David. E se o trabalho não fosse branco e masculino? Recentrando a história da classe trabalhadora e estabelecendo novas bases para o debate sobre sindicatos e raça. FORTES, Alexandre; LIMA, Henrique Espada; XAVIER, Regina Célia Lima; PETERSEN, Silvia Regina Ferraz. (Org.). Cruzando Fronteiras: novos olhares sobre a história do trabalho. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2013.
XAVIER, Regina. Raça, classe e cor: debates em torno da construção de identidades no Rio Grande do Sul no pós-abolição. In: XAVIER, Regina Celia Lima Xavier; PETERSEN, Silvia Regina Ferraz; LIMA, Henrique Espada; FORTES, Alexandre. (Org.). Cruzando Fronteiras: novos olhares sobre a história do trabalho. 1ed. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2013.

Imprensa militante e a difusão do ensino racionalista no Brasil (1900 a 1920)
Isabel Aparecida Bilhão (Doutora em História – UNISINOS)
Palavras-chave: racionalismo - imprensa - educação operária
Resumo expandido:
A discussão apresentada nessa comunicação está inserida em um projeto de pesquisa mais amplo - intitulado Entre a fé e a razão: disputas de católicos e anarquistas pela educação operária (Espanha, Brasil e Argentina – 1891 a 1920), desenvolvido junto ao PPGEDU/Unisinos, com financiamento do CNPq – e tem como objetivo analisar a construção da memória e a difusão dos preceitos educacionais do pedagogo Catalão Francisco Ferrer y Guardia (1859-1909), voltadas à educação dos trabalhadores e de seus filhos, realizadas por grupos de militantes anarquistas em atuação no interior do mundo do trabalho brasileiro, durante as primeiras décadas do século XX. Época de profundas transformações sociais e políticas, na qual a República, instituída em 1889, consolidou-se a partir dos princípios federativos, do liberalismo econômico e de uma noção meramente formal da representatividade política. Em tal conjuntura, ampliou-se a defesa da organização autônoma dos trabalhadores e a educação operária passou a ser vista como um importante campo de batalhas ideológicas. Os veículos da imprensa militante, como propagadores das propostas em disputa, se engajaram tanto na difusão dos diferentes ideários quanto no combate às propostas rivais. Para o caso desse texto, pretende-se abordar a difusão da concepção racionalista de ensino e a defesa da criação de Escolas Modernas para os trabalhadores e seus filhos, em distintas partes do país, presentes em periódicos de tendência anarquista. Com o intuito de analisar as relações desses veículos militantes com o contexto em que estavam inseridos, a abordagem será organizada em três tópicos. Inicialmente, reflete-se brevemente sobre as características gerais da imprensa no período. Num segundo momento trata-se das peculiaridades da constituição da imprensa militante ao longo da Primeira República e, finalmente, tomando como exemplo empírico o caso de três jornais militantes: o periódico anticlerical A Lanterna que passou por três fases de publicação: de 1901 a 1904; de 1909 a 1916 e de 1933 a 1935. O jornal foi criado como órgão da Liga Anticlerical, de São Paulo, e dirigido pelo advogado Benjamin Motta. Na primeira fase, A Lanterna apresentou uma tiragem irregular, mas bastante elevada para os padrões da época, alcançando, em alguns números, 26 mil exemplares. Chegou a ser distribuído em várias cidades do interior do estado de São Paulo, no Rio de Janeiro e em outros estados da federação. A segunda fase do jornal, sob a direção de Edgard Leuenroth, iniciou-se 1909 e estendeu-se até 1916, com a publicação de 293 edições. A terceira fase, também sob a direção de Edgard Leuenroth, iniciou-se em 1933 e foi até 1935, com a publicação de 48 números. Apesar de não definir-se claramente como anarquista, esse jornal tinha, em seu grupo editorial, militantes ácratas e apresentava-se, especialmente em sua segunda fase, como defensor do socialismo revolucionário, rejeitando as disputas político-eleitorais, a propriedade privada e todo tipo de autoridade. Centrava esforços no combate ao pensamento religioso em geral e à Igreja Católica em particular e participava da difusão do ensino racionalista e das concepções pedagógicas da Escola Moderna. O segundo jornal é o A Luta, de Porto Alegre, que circulou, em sua primeira fase no período de 1906 a 1911. Esse periódico foi criado e dirigido pelo gráfico Polydoro dos Santos, auxiliado por um grupo de militantes que, como ele, participavam de longa data do movimento operário da cidade, inicialmente na União Operária Internacional e, posteriormente, na Federação Operária do Rio Grande do Sul-FORGS. A direção de Polydoro foi um dos fatores marcantes na linha editorial do periódico, pois ele foi um dos mais constantes defensores e divulgadores das concepções do pedagogo catalão Francisco Ferrer y Guardia na cidade. No jornal A Luta, além de divulgar o ensino racionalista, travou acaloradas polêmicas contra diferentes adversários, entre eles, o Estado, o Clero e os militantes de correntes rivais, especialmente os socialistas. O terceiro veículo é o A Voz do trabalhador, do Rio de Janeiro, que teve duas fases de circulação, a primeira de 1908 a 1909, com a publicação de 21 números, sob a responsabilidade editorial do militante anarquista espanhol Manoel Moscoso, e a segunda de 1913 a junho de 1915. O periódico foi criado a partir das discussões do Primeiro Congresso Operário Brasileiro, realizado em abril de 1906, na cidade do Rio de Janeiro e que, entre suas resoluções, instituiu a Confederação Operária Brasileira - COB e determinou a publicação de um jornal para representá-la. Embora tenha sido criado como veículo da COB, que então se encontrava sob influência anarquista, A Voz do Trabalhador acabou muitas vezes por restringir seu âmbito de atuação ao movimento operário do Rio de Janeiro e, tanto por dificuldades financeiras, quanto pela repressão sofrida, não conseguiu manter um padrão em seu formato, número de páginas, tiragens e periodicidade. A hipótese norteadora é de que uma das mais importantes funções dos veículos jornalísticos da época era colocar em circulação os argumentos de grupos contendores em suas variadas polêmicas. No caso aqui analisado, esses “combates de ideias” em torno da vida e morte de Ferrer ensejaram, ao longo dos anos, a criação de símbolos e lugares de memória e ajudaram a sacralizar sua imagem. Mas, para além das polêmicas, também compareceram reiteradamente nas homenagens a ele prestadas a afirmação da continuidade de sua obra. Numerosos são os exemplos da fundação de escolas modernas nos veículos consultados e, embora se saiba que boa parte delas teve existência efêmera, não se pode desconsiderar sua contribuição para a renovação de práticas e concepções pedagógicas, para a quebra de tabus como a co-educação de meninos e meninas, e até mesmo para a difusão da cultura escolar a uma parcela da população que, de outra forma, não teria acesso a ela.

O trabalho dos professores para implementação das políticas de ações afirmativas na universidade no século XXI
Eliane Almeida de Souza e Roseli Pereira (Doutorandas em Educação – UFRGS)
Palavras-chave: educação – trabalho - políticas públicas - ações afirmativas - cotas
Resumo expandido:
O presente trabalho tem por objetivo, apresentar as principais políticas de ações afirmativas que permeiam a gestão da universidade pública no Brasil atualmente, e ver como os professores vêm dialogando com estas políticas na universidade brasileira. Nosso principal autor será Boaventura de Sousa Santos e sua obra “A universidade no século XXI: para uma reforma democrática e emancipatória da universidade” (2010). Neste, o autor nos remete a pensar como se dá o currículo e o processo de redemocratização que a universidade assume diante de grupos específicos que ingressaram nestas instituições. O sistema de cotas está desenhado para a inserção de grupos específicos (negros, indígenas) nas universidades oriundas de escolas públicas, pois sempre que vamos abordar estas questões, surgem diversos argumentos de que estas políticas não são prioridades, e que se deve primeiro melhorar a educação básica. O autor reforça que estes grupos não são minorias e sim foram feitos minorias. Vejamos: As actividades de extensão devem ter como objectivo prioritário, sufragado democraticamente no interior da universidade, o apoio solidário na resolução dos problemas da exclusão e da discriminação sociais e de tal modo que nele se dê voz aos grupos excluídos e discriminados. (SANTOS, 2005, p.37). A universidade pública assume diante do conhecimento científico desafios no que se refere à implementação das políticas de ações afirmativas. Portanto, é necessário investigar um pouco mais como tem sido o trabalho dos professores em relação à implementação destas políticas. Temos a pretensão de socializarmos no VIII JORNADAS DO GT MUNDOS DO TRABALHO ANPUH/RS, partes de uma pesquisa de doutorado da UFRGS que vem dialogando com estas temáticas, cujo objetivo é socializar dados estatísticos de uma investigação referente ao acesso, permanência e sucesso dos alunos cotistas autodeclarados negros, e como tem sido o trabalho dos professores em relação a estes alunos na UFRGS. A metodologia utilizada será constituída de relatórios, formulários de investigação e entrevistas com alunos cotistas de como estes percebem a universidade, e como esta tem oportunizado suas participações em seus núcleos. Outras políticas serão apresentadas a fim de dialogar com os professores, pois são políticas que buscam atender alunos oriundos de escolas públicas, negros, quilombolas, ribeirinhos, indígenas e outros segmentos nas universidades. Por isso, faz-se necessário apresentarmos dispositivos legais (legislações) que incidem diretamente nas questões curriculares que os professores precisam conhecer e auxiliar na inserção destas especificidades no currículo. São elas: 1- PROUNI - Programa Universidade para Todos - institucionalizado pela Lei n.º 11.096, em 13 de janeiro de 2005, tem como objetivo a concessão de bolsas de estudos integrais e parciais para estudantes egressos do Ensino Médio da rede pública ou da rede particular nas condições de bolsistas integrais, como renda per capita familiar máxima de três salários mínimo. 2- PROUNI no ano de 2014 totalizou 653.992 candidatos. Os cursos preferidos foram as engenharias (166.807), Administração (137.515); Direito (119.447); ciências contábeis (61.169) e pedagogia (56.250). Outro dado importante quanto ao PROUNI foi a procura desta Programa sendo a maioria por mulheres, ou seja, um total de 59% sendo então 384.063. No que se refere às questões étnicas, a maior parte dos candidatos são negros, ou seja, 409.527 representando 62%%; - os brancos representam 34,9%; os amarelos 2,4% e apenas 0,1% representam os que se autodeclararam indígenas, totalizando então 853 candidatos. 3- FIES – Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (1998) - é um programa do Ministério da Educação do Brasil destinado a financiar a graduação na educação superior de estudantes matriculados em instituições não gratuitas. 4- UAB – Universidade Aberta do Brasil – o sistema foi criado em 2005 para "o desenvolvimento da modalidade de educação a distância, com a finalidade de expandir e interiorizar a oferta de cursos e programas de educação superior no País". Tem como proposta formar gestores, professores e profissionais da educação em temas e conteúdos que perpassam a educação, tais como diversidade, gestão, direitos humanos, educação inclusiva, educação ambiental, saúde e escola, dentre outros. 5) PROGRAMA INCLUIR – foi instituído em 2005, e cumprem os Decretos 5.296/2004 e 5.626/2005, publicado no Diário Oficial da União nº 84, seção 3, páginas 39 e 40, de 5 de maio de 2008. Ele é um Programa de Acessibilidade na Educação Superior – voltado para a inclusão de estudantes portadores de deficiência no Sistema Federal de Ensino Superior. Existem outras, mas estas são as que mais têm influenciado o trabalho dos professores e contribuído com os diálogos e as categorias de acesso permanência e sucesso dos alunos cotistas nas universidades públicas brasileira porque estas políticas ao adentrarem o currículo, imprimem nos professores a necessidade destes trabalharem amparados nas legislações respeitando as diversidades que integram o processo de transformação social.
Referências:
SANTOS, Boaventura de Sousa. A universidade no Século XXI: para uma reforma democrática e emancipatória da universidade - 3ª ed. São Paulo: Cortez, 2010.http://noticias.terra.com.br/educacao/prouni-tem-50-a-mais-de-inscrit,4177fa10c6796410VgnCLD200000b1bf46d0RCRD. HTML – acessado em 01.07.2015.