RESUMOS
EXPANDIDOS DAS SESSÕES COORDENADAS
Dia
27/10/2015 – Terça-feira
13h30
às 15h30 – Sessão Coordenada 05
TRABALHO,
IMPRENSA E EDUCAÇÃO
COORDENADOR:
PROF. DR. MARCUS VINÍCIUS DE FREITAS ROSA (UFRGS)
Construindo
redes sociais, identidades e espaços políticos: a imprensa operária no Amazonas
(1890-1928)
Luciano
Everton Costa Teles (Doutorando em História - UEA)
Palavras-chave:
História do Trabalho - imprensa operária - Amazonas
Resumo
expandido:
Seja
como objeto e/ou fonte de estudo, a imprensa operária se mostrou um filão
documental e, desde a década de 1980, quando os estudos ligados ao mundo do
trabalho se ampliaram e se intensificaram, atraiu pesquisadores de diversas
regiões do Brasil que buscaram explorar suas potencialidades utilizando
diferentes perspectivas, que iam desde uma análise do discurso, passando pelo
uso dos conceitos de ideologia, memória, representações, identidades e gênero.
As temáticas eram diversificadas e, em grande medida, sugeridas pelos próprios
assuntos elencados nos jornais. Certamente que alguns desses pesquisadores que
utilizaram os jornais na pesquisa histórica, como Ferreira (1988), Zicman
(1985), Rago (1985) e Jardim (1990), para citar apenas alguns exemplos, não deixaram
de apontar caminhos de pesquisa que acabaram atraindo novos estudiosos.
Atualmente, com o movimento no âmbito da disciplina histórica de utilização de
novos conceitos, metodologias e elaboração de novas problemáticas e abordagens,
a reflexão sobre a imprensa operária têm se mostrado ainda distante de um
processo de esgotamento. Pelo contrário, recentemente pesquisadores da área vêm
salientando que os estudos de história operária necessitam de uma proposta que
tomem a imprensa operária como tema e espaço central da análise e reflexão
histórica (CRUZ, 2000). Petersen, por exemplo, assinalou que “alguns aspectos
da cultura operária podem ganhar um peso relativo diferente do que decorre de
uma análise fragmentada” e destaca o caso da importância concedida à imprensa,
que, para a autora, “provavelmente será redimensionada quando pudermos recompor
a rede de sua circulação pelo país” (1995, p. 135). Nesta esteira, a imprensa
operária passou a ser retomada e percebida sob a ótica de “redes de troca de
informação”, “corredor de informações”, etc. Com o objetivo de demonstrar o
processo de constituição de redes sociais através da imprensa operária no
Amazonas, elaborou-se um caminho a ser seguido, explicitado abaixo: 1)
Identificar o grupo social que está por traz do jornal, contextualizando-o no
sentido de investigar sua composição social, bem como trajetórias, contatos e
vínculos estabelecidos internamente e externamente; 2) Em articulação com o que
está acima, identificar o nome (em geral do militante operário, pois a pesquisa
se insere neste âmbito) e, através dele, manusear os jornais com a finalidade
de coletar dados que possam de alguma forma explicitar a “rede de relações” do
indivíduo, do grupo e do jornal que ele faz parte; 3) Perceber que no jornal
existem conteúdos que foram alimentados não somente pela trajetória e
experiência dos seus responsáveis, mas também absorvidos e/ou estimulados por
conexões com outros grupos presentes no Brasil e no mundo, fruto da própria
circulação e dinâmica das folhas operárias. Estes contatos estão expressos no
jornal, ainda que em alguns casos, de forma fragmentada; 4) Reconhecer que, em
alguns casos, os jornais publicavam uma lista com os nomes dos contatos. Isto
era feito porque eram enviadas remessas para eles e vice-versa. Esse movimento
se coloca como salutar para esse processo; 5) Buscar, no próprio jornal,
informações sobre a circulação de lideranças (cidades, estados, regiões, etc.);
6) Recolher alguns indicativos, em geral fragmentários também, que indicavam
esses contatos, relações, vínculos e interações. Todavia, como realçou
Boissevan (1979, p. 392-393), as redes sociais sozinhas dizem muito pouco. Cabe
então não somente identificá-las como também demonstrá-las em ação. Num
primeiro momento não se pode deixar de mencionar que essas redes sociais
possibilitaram a circulação de ideias que eram referências para interpretações
da sociedade, modelos organizativos e ações desenvolvidas no interior do mundo
do trabalho. Da mesma forma, foram instrumentos para defender projetos,
inclusive de identidade operária. Neste sentido, ao lado da análise de rede,
procurar-se-á visualizar as lutas travadas por projetos de identidades
intra-extra grupos (operários x patrões, operários x operários) a partir de
imposições de percepção e de categorias de percepção que procuravam determinar
o lugar social dos mesmos. O fundamental é, “em oposição a”, apreender o que é
instituído – considerado como “resultante, num dado momento, para fazer existir
ou inexistir o que existe” – e as representações – entendida “como enunciados
performativos que pretendem que aconteça aquilo que enunciam” (BOURDIEU, 1989,
p. 119). Por outro lado, a categoria de esfera pública, na perspectiva
habermasiana, possibilitará “fechar” a análise em direção a responder a questão
central do trabalho. Pois para Habermas, a esfera pública se constitui, da
conexão entre mundo da vida e sistema, (um reverberando no outro), como espaço
social da prática comunicativa, onde opinião e vontade vinham a público através
de uma rede de comunicação e articulação de fluxos comunicativos (HABERMAS,
2003; LUBENOW, 2007, p. 108). Enfim, o que se busca é responder o problema
central da pesquisa que consiste em demonstrar, através das folhas operárias,
as bases, estabelecidas pelos militantes responsáveis por essas folhas, da
formação de complexas redes sociais e, no seio dessas redes, a elaboração de
projetos de identidades operárias que, de forma imbricada, tinham como
finalidade a construção de espaços políticos legítimos de mudança social. Com
efeito, partiu-se do pressuposto de que os jornais operários, animados por
militantes cuja atividade possibilitava costurar contatos e relações com
lideranças de outros estados e até países, o que produzia conexões e interações
espaciais significativas, promoviam fortes movimentações de ideias sociais e
políticas. Nesta esteira, nos jornais, havia o esforço em elaborar projetos de
construção de identidades operárias que caminhavam em duas direções: o
primeiro, de unidade do operariado em geral, vislumbrava reconhecimento e
distinção em relação a outros setores sociais (patronato e poder público) e
tinha como pilar a posição de que o trabalhador era o elemento propulsor da
sociedade, criador da riqueza e do “progresso” de um país, o segundo, de
diferenças e distinções internas, evidenciava a diversidade existente no mundo
do trabalho. Por fim, essas formações de complexas redes sociais e as
construções de projetos de identidades direcionados aos operariados em geral,
sugiram no sentido de promover a constituição de espaços políticos que
concorressem para mudanças sociais.
Referências:
BOISSEVAIN, Jeremy. Network Analysis: a reappraisal.
In: Current Anthropology. The
University of Chicago Press. v. 20, n. 2, Jun, 1979, p. 392-394.
BOURDIEU, Pierre. A
identidade e a representação. Elementos para uma
reflexão crítica sobre a ideia de região. In: Ibidem. O poder simbólico.
Lisboa: Difel, 1989.
CRUZ,
Heloisa de Faria. São Paulo em
papel e tinta: periodismo e vida urbana (1890-1915). São Paulo: EDUC, 2000.
FERREIRA,
Maria Nazareth. Imprensa
Operária no Brasil. São Paulo: Ática, 1988.
HABERMAS, Jurgen. Mudança estrutural da esfera pública: investigações quanto a uma categoria da sociedade burguesa. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003.
HABERMAS, Jurgen. Mudança estrutural da esfera pública: investigações quanto a uma categoria da sociedade burguesa. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003.
JARDIM,
Jorge Luiz Pastorisa. Comunicação
e militância: a imprensa operária no Rio Grande do Sul (1892-1923).
Dissertação de Mestrado: PUC-RS, 1990.
LUBENOW, A categoria de esfera pública em
Jürgen Habermas: para uma reconstrução da autocrítica. Cadernos de Ética e
Filosofia Política, n. 10, p. 103-123, 1/2007.
PERTERSEN,
Sílvia Regina Ferraz. Cruzando
fronteiras: as pesquisas regionais e a história operária brasileira. Anos
90. Porto Alegre, n. 3, p. 129-153, jun./1995.
RAGO,
Margareth. Do cabaré ao lar:
a utopia da cidade disciplinar, Brasil (1890-1930). Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1985.
ZICMAN,
Renée. História através da
imprensa: algumas considerações metodológicas. Projeto História, nº 4. São
Paulo: Educ, 1985, p. 89-102.
O
papel de construção desempenhado pelos jornais O Exemplo e A Alvorada na
formação de uma identidade negra e operária
Ângela
Pereira Oliveira (Mestranda em História – UFPel)
Palavras-chave:
imprensa negra - imprensa operária - pós-abolição
Resumo
expandido:
Propondo
uma articulação entre história do trabalho e da cultura, dentro do contexto do
pós-abolição, se busca dar ouvidos ao grupo negro. Uma vez que esses ainda
possuem uma história bastante estereotipada. Por isso, ao longo desta pesquisa
buscamos dialogar com a capacidade intelectual e organizativa mantida pelos
negros gaúchos através de sua imprensa, destacando sempre o seu protagonismo.
Nesse sentido, a utilização de alguns autores nos auxilia na construção desta
proposta. Entre eles, temos, por exemplo, Thompson (2001). Uma vez que o autor
ao mesmo que realiza uma abordagem marxista também apresenta uma maior
valorização do aspecto cultural em suas análises. Também privilegiamos um
diálogo com autores que analisam a imprensa negra que teve sua circulação nos
mais diversos Estados brasileiros. Como por exemplo, Guimarães (2003) e
Domingues (2008). Uma vez que estes, além de possibilitar entender as demandas
do pós-abolição, permitem notar alguns comportamentos similares entre essa
imprensa. Como fontes o presente trabalho utiliza-se, principalmente, de dois
jornais de imprensa negra e operária que circularam no Estado do Rio Grande do
Sul, no início do século XX. Essa imprensa é assim denominada influenciada pelo
fato de que “a imprensa negra, de certa forma, se espelhou na atuação da
imprensa operária” (CARVALHO, 2009: 129). Esses jornais selecionados para a
pesquisa se diferenciam dos demais que circularam no Rio Grande do Sul. O
primeiro, O Exemplo, editado na cidade de Porto Alegre, foi o precursor entre a
imprensa negra que se estabeleceu no referido Estado. O Exemplo nasceu no ano
de 1892 e suas atividades só foram finalizadas no ano de 1930. O jornal deixou
de circular por diferentes momentos devido a problemas financeiros, ainda assim
conseguiu manter-se por quase 38 anos. Já o segundo jornal estudado, A
Alvorada, era editado na cidade de Pelotas, situada na região sul do Rio Grande
do Sul. Esse tem a sua fundação em 1907 e só finalizaria suas atividades 58
anos após, no ano de 1965. Da mesma forma que O Exemplo, o jornal A Alvorada,
também passou por problemas financeiros, o que ocasionou em diversas
interrupções. Este estudo é parte da construção da dissertação da autora que
visa tratar como os negros conseguem, através desse recurso comunicativo, que é
a imprensa negra, construir um mecanismo de defesa étnica. E, como esse
mecanismo consegue ou não se sobrepor a outras questões identitárias. Como
hipótese tem se levantado que a identidade étnica construída nesses jornais se
sobrepõe a identidade de classe. Assim, se busca demonstrar que a classe não
está acima de outras identificações. Logo, o objetivo buscado permeia na
apresentação de como se deu a construção dessa proposta. E, apontar a forma
como a autora tem atuado no desenvolvimento e construção de sua dissertação. A
fim de dialogar sobre possibilidades na metodologia e nas formas de abordagem.
Também, se buscara dentro de ambos os jornais, O Exemplo e o A Alvorada, como
eles apresentam os chamamentos de união para seus leitores e como constroem uma
consciência em relação à classe e, em defesa do seu grupo étnico. Pretende-se
estabelecer um diálogo entre os referenciais teóricos e as fontes. E, para isso
busca-se trazer para o conhecimento do leitor o posicionamento e a própria
escrita do jornal. Para a construção desta pesquisa foram escolhidos os anos de
1919 a 1935. Essa seleção foi influenciada pela disponibilidade de consulta do
material escolhido.
Referências:
CARVALHO, Gilmar Luiz de. A imprensa negra paulista entre 1915 e 1937: características, mudanças e permanências. São Paulo, 2009. Mestrado em História Econômica - Universidade de São Paulo.
CARVALHO, Gilmar Luiz de. A imprensa negra paulista entre 1915 e 1937: características, mudanças e permanências. São Paulo, 2009. Mestrado em História Econômica - Universidade de São Paulo.
DOMINGUES,
Petrônio José. A nova abolição.
São Paulo: Selo Negro, 2008.
GUIMARÃES,
Antônio Sérgio Alfredo. Notas sobre raça, cultura e identidade na imprensa
negra de São Paulo e Rio de Janeiro, 1925-1950. Afro-Ásia, núm. 30, 2003, pp.
247-269. Universidade Federal da Bahia. Bahía, Brasil. THOMPSON, E. P. As peculiaridades dos ingleses e
outros artigos. São Paulo: EDUNICAMP, 2001.
Defender
a classe e educar pel'O Exemplo: imprensa negra e a luta pela instrução
em Porto Alegre (1892-1911)
Melina
Kleinert Perussatto (Doutoranda em História – UFRGS)
Palavras-chave:
pós-abolição - imprensa negra - instrução
Resumo
expandido:
Na
década de 1930, o sociólogo e historiador negro estadunidense W.E.B. Du Bois
apontou para a necessidade de uma descentralização na história do trabalho que
considerasse as relações entre raça e classe, problematizando os motivos pelos
quais o trabalhador branco se tornou o trabalhador universal. Nesse sentido, a
proposta dessa comunicação consiste em problematizar as relações entre raça e
classe desde a perspectiva de intelectuais reunidos em torno da imprensa negra
de Porto Alegre, na virada do século XIX para o XX. Para tanto, parto do
programa que atravessou as quase quatro décadas de existência do jornal O
Exemplo, sintetizado em seu número de abertura em duas ideias-chave: “a defesa
de nossa classe e o aperfeiçoamento de nossos medíocres conhecimentos”. Sem estabelecer
hierarquias entre raça e classe, procuro apreender em minha pesquisa
de doutoramento as circunstâncias nas quais raça e/ou classe eram acionadas na
busca pela concretização do programa do hebdomadário, bem como a polissemia que caracterizava o
próprio uso desses dois termos. Uma das estratégias de análise reside em
observar as interlocuções que estabeleciam com seu público-alvo: os
trabalhadores e trabalhadoras negras. Semelhante a outro postulado de W.E.B. Du
Bois, os jornalistas d’O Exemplo se colocavam como lideranças do povo negro na
busca pela redenção da sua raça em uma sociedade marcada por, pelo menos, dois
processos simultâneos, entrecruzados e profundamente racializados: a
organização do mercado de trabalho livre e a edificação da nação republicana.
Para Du Bois, a redenção da raça deveria passar necessariamente por uma
educação verdadeiramente emancipadora, e não apenas instrumental. Somente dessa
forma a barreira racial, identificada por esse intelectual com o problema do
século XX, seria extirpada. A crença de que a instrução seria uma via para a
redenção da raça também perpassou os processos de construção da liberdade e da
cidadania negra no pós-abolição em outras geografias (Gomes, 2005; Pinto, 2010;
Pereira, 2013).
Na
primeira fase do jornal (1892 a 1897), os jornalistas acionaram vários
dispositivos constitucionais para denunciarem o preconceito de cor (também
nomeado de preconceito de raça) que afetava seu grupo sociorracial em
diferentes espaços. Espiridião Calisto, que na fase seguinte tornou-se diretor
de redação, denunciou suas experiências de segregação escolar para explicitar
que era o racismo a causa do desinteresse pela matrícula e da evasão
das crianças negras. Nesse empreendimento, era fundamental que os pais
insistissem na permanência de seus filhos nas escolas e, sobretudo, que
denunciassem a violação do princípio constitucional da igualdade. Na segunda
fase (1902 a 1911) o jornal assumiu um caráter mais propositivo diante das
desilusões em relação ao Estado. Já na primeira edição os redatores-chefes
Espiridião Calisto (barbeiro e depois funcionário púbico) e Tácito Pires
(professor) anunciaram o projeto de criação da Escola Noturna O Exemplo,
“visando o levantamento intelectual das classes desprotegidas” e aberta a todos
os trabalhadores sem distinção de “cor, sexo, nacionalidade, princípios
religiosos ou profissão”. O projeto não chegou a concretizar-se e entre os
motivos citados estava a pouca adesão à causa, evidenciando mais uma vez os
limites enfrentados por esse coletivo na interlocução com seu público-alvo
principal. Essa tentativa, apesar de frustrada,
possibilita a apreensão das intersecções entre raça e classe presentes nas
experiências e no pensamento desses sujeitos. Na segunda fase outras
estratégias foram acionadas, merecendo destaque o diálogo com as associações
negras e a proposta de criação da Liga das Associações dos Homens de Cor no Rio
Grande do Sul. Dentre outros fins, ela seria mantenedora de sociedades
recreativas, beneficentes e instrutivas (Rosa, 2014), ou seja, apesar de
criticarem a pouca atenção dada à instrução, reconheciam a importância da
sociabilidade proporcionada pelas associações e viam nelas espaços possíveis
para a concretização de seu projeto de levantamento intelectual "classe dos homens de cor
preta”. Concretamente, registrou-se a fundação do Grêmio Dramático José do
Patrocínio, que chegou a funcionar junto à redação d’O Exemplo, com a proposta
de educar pelo teatro (especialmente com a encenação de peças do dramaturgo negro
sul-rio-grandense Arthur Rocha, falecido às vésperas da abolição), além de outras atividades (Bohrer, 2013). A maioria dessas
propostas e iniciativas era aberta a todos, porém o diálogo estreito com as
associações negras aponta mais uma vez para as especificidades que marcavam o projeto d’O
Exemplo e as experiências compartilhadas por seu grupo (e pela massa de
trabalhadores e trabalhadoras negras, de um modo geral) dentro da classe
trabalhadora.
Referências:
Jornal
O Exemplo, 1892 a 1911 (Acervos diversos).
BOHRER,
Felipe Rodrigues. A música na cadência da história: raça, classe e cultura em
Porto Alegre no pós-abolição. Dissertação de Mestrado – Programa de
Pós-graduação em História. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. UFRGS,
Porto Alegre, 2013, 234 p.
DU
BOIS, W.E.B. As Almas da Gente Negra. Editora Lacerda, 1999.
DU BOIS, W.E.B. Black Reconstruction in America, Nova
York, 1992.
GOMES,
Flávio. Negros e Política (1888-1937). Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2005.
MÜLLER,
Liane. As contas do meu rosário são balas de artilharia. Porto Alegre:
Pragmatha, 2013.
PEREIRA,
Amilcar. O Mundo Negro: relações raciais e a constituição do movimento negro
contemporâneo no Brasil. Rio de Janeiro: Pallas/FAPERJ, 2013.
PINTO,
Ana Flávia Magalhães. Imprensa negra no Brasil do século XIX. São Paulo: Selo
Negro, 2010.
ROSA,
Marcus Vinícius de Freitas. Além da invisibilidade: história social do racismo
em Porto Alegre (1884-1918). Tese de doutorado - Programa de Pós-graduação em
História. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. UNICAMP, Campinas, 2014,
312 p.
SANTOS,
José Antônio. Prisioneiros da história: Trajetórias intelectuais na imprensa
negra meridional. Tese de Doutorado - Programa de Pós-graduação em História.
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. PUCRS, Porto Alegre, 2011, 281 p.
ROEDIGER,
David. E se o trabalho não fosse branco e masculino? Recentrando a história da
classe trabalhadora e estabelecendo novas bases para o debate sobre sindicatos
e raça. FORTES, Alexandre; LIMA, Henrique Espada; XAVIER, Regina Célia Lima;
PETERSEN, Silvia Regina Ferraz. (Org.). Cruzando Fronteiras: novos olhares
sobre a história do trabalho. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2013.
XAVIER,
Regina. Raça, classe e cor: debates em torno da construção de identidades no
Rio Grande do Sul no pós-abolição. In: XAVIER, Regina Celia Lima Xavier;
PETERSEN, Silvia Regina Ferraz; LIMA, Henrique Espada; FORTES, Alexandre.
(Org.). Cruzando Fronteiras: novos olhares sobre a história do trabalho. 1ed.
São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2013.
Imprensa
militante e a difusão do ensino racionalista no Brasil (1900 a 1920)
Isabel
Aparecida Bilhão (Doutora em História – UNISINOS)
Palavras-chave:
racionalismo - imprensa - educação operária
Resumo
expandido:
A
discussão apresentada nessa comunicação está inserida em um projeto de pesquisa
mais amplo - intitulado Entre a fé e a razão: disputas de católicos e
anarquistas pela educação operária (Espanha, Brasil e Argentina – 1891 a 1920),
desenvolvido junto ao PPGEDU/Unisinos, com financiamento do CNPq – e tem como
objetivo analisar a construção da memória e a difusão dos preceitos
educacionais do pedagogo Catalão Francisco Ferrer y Guardia (1859-1909),
voltadas à educação dos trabalhadores e de seus filhos, realizadas por grupos
de militantes anarquistas em atuação no interior do mundo do trabalho
brasileiro, durante as primeiras décadas do século XX. Época de profundas
transformações sociais e políticas, na qual a República, instituída em 1889,
consolidou-se a partir dos princípios federativos, do liberalismo econômico e
de uma noção meramente formal da representatividade política. Em tal
conjuntura, ampliou-se a defesa da organização autônoma dos trabalhadores e a
educação operária passou a ser vista como um importante campo de batalhas
ideológicas. Os veículos da imprensa militante, como propagadores das propostas
em disputa, se engajaram tanto na difusão dos diferentes ideários quanto no
combate às propostas rivais. Para o caso desse texto, pretende-se abordar a
difusão da concepção racionalista de ensino e a defesa da criação de Escolas
Modernas para os trabalhadores e seus filhos, em distintas partes do país,
presentes em periódicos de tendência anarquista. Com o intuito de analisar as
relações desses veículos militantes com o contexto em que estavam inseridos, a
abordagem será organizada em três tópicos. Inicialmente, reflete-se brevemente
sobre as características gerais da imprensa no período. Num segundo momento
trata-se das peculiaridades da constituição da imprensa militante ao longo da
Primeira República e, finalmente, tomando como exemplo empírico o caso de três
jornais militantes: o periódico anticlerical A Lanterna que passou por três
fases de publicação: de 1901 a 1904; de 1909 a 1916 e de 1933 a 1935. O jornal
foi criado como órgão da Liga Anticlerical, de São Paulo, e dirigido pelo
advogado Benjamin Motta. Na primeira fase, A Lanterna apresentou uma tiragem
irregular, mas bastante elevada para os padrões da época, alcançando, em alguns
números, 26 mil exemplares. Chegou a ser distribuído em várias cidades do
interior do estado de São Paulo, no Rio de Janeiro e em outros estados da
federação. A segunda fase do jornal, sob a direção de Edgard Leuenroth,
iniciou-se 1909 e estendeu-se até 1916, com a publicação de 293 edições. A
terceira fase, também sob a direção de Edgard Leuenroth, iniciou-se em 1933 e
foi até 1935, com a publicação de 48 números. Apesar de não definir-se
claramente como anarquista, esse jornal tinha, em seu grupo editorial,
militantes ácratas e apresentava-se, especialmente em sua segunda fase, como
defensor do socialismo revolucionário, rejeitando as disputas
político-eleitorais, a propriedade privada e todo tipo de autoridade. Centrava
esforços no combate ao pensamento religioso em geral e à Igreja Católica em
particular e participava da difusão do ensino racionalista e das concepções
pedagógicas da Escola Moderna. O segundo jornal é o A Luta, de Porto Alegre,
que circulou, em sua primeira fase no período de 1906 a 1911. Esse periódico foi
criado e dirigido pelo gráfico Polydoro dos Santos, auxiliado por um grupo de
militantes que, como ele, participavam de longa data do movimento operário da
cidade, inicialmente na União Operária Internacional e, posteriormente, na
Federação Operária do Rio Grande do Sul-FORGS. A direção de Polydoro foi um dos
fatores marcantes na linha editorial do periódico, pois ele foi um dos mais
constantes defensores e divulgadores das concepções do pedagogo catalão
Francisco Ferrer y Guardia na cidade. No jornal A Luta, além de divulgar o
ensino racionalista, travou acaloradas polêmicas contra diferentes adversários,
entre eles, o Estado, o Clero e os militantes de correntes rivais,
especialmente os socialistas. O terceiro veículo é o A Voz do trabalhador, do
Rio de Janeiro, que teve duas fases de circulação, a primeira de 1908 a 1909,
com a publicação de 21 números, sob a responsabilidade editorial do militante
anarquista espanhol Manoel Moscoso, e a segunda de 1913 a junho de 1915. O
periódico foi criado a partir das discussões do Primeiro Congresso Operário
Brasileiro, realizado em abril de 1906, na cidade do Rio de Janeiro e que,
entre suas resoluções, instituiu a Confederação Operária Brasileira - COB e
determinou a publicação de um jornal para representá-la. Embora tenha sido
criado como veículo da COB, que então se encontrava sob influência anarquista,
A Voz do Trabalhador acabou muitas vezes por restringir seu âmbito de atuação
ao movimento operário do Rio de Janeiro e, tanto por dificuldades financeiras,
quanto pela repressão sofrida, não conseguiu manter um padrão em seu formato,
número de páginas, tiragens e periodicidade. A hipótese norteadora é de que uma
das mais importantes funções dos veículos jornalísticos da época era colocar em
circulação os argumentos de grupos contendores em suas variadas polêmicas. No
caso aqui analisado, esses “combates de ideias” em torno da vida e morte de
Ferrer ensejaram, ao longo dos anos, a criação de símbolos e lugares de memória
e ajudaram a sacralizar sua imagem. Mas, para além das polêmicas, também
compareceram reiteradamente nas homenagens a ele prestadas a afirmação da
continuidade de sua obra. Numerosos são os exemplos da fundação de escolas
modernas nos veículos consultados e, embora se saiba que boa parte delas teve existência
efêmera, não se pode desconsiderar sua contribuição para a renovação de
práticas e concepções pedagógicas, para a quebra de tabus como a co-educação de
meninos e meninas, e até mesmo para a difusão da cultura escolar a uma parcela
da população que, de outra forma, não teria acesso a ela.
O
trabalho dos professores para implementação das políticas de ações afirmativas
na universidade no século XXI
Eliane
Almeida de Souza e Roseli Pereira (Doutorandas em Educação – UFRGS)
Palavras-chave:
educação – trabalho - políticas públicas - ações afirmativas - cotas
Resumo
expandido:
O
presente trabalho tem por objetivo, apresentar as principais políticas de ações
afirmativas que permeiam a gestão da universidade pública no Brasil atualmente,
e ver como os professores vêm dialogando com estas políticas na universidade
brasileira. Nosso principal autor será Boaventura de Sousa Santos e sua obra “A
universidade no século XXI: para uma reforma democrática e emancipatória da
universidade” (2010). Neste, o autor nos remete a pensar como se dá o currículo
e o processo de redemocratização que a universidade assume diante de grupos
específicos que ingressaram nestas instituições. O sistema de cotas está
desenhado para a inserção de grupos específicos (negros, indígenas) nas
universidades oriundas de escolas públicas, pois sempre que vamos abordar estas
questões, surgem diversos argumentos de que estas políticas não são
prioridades, e que se deve primeiro melhorar a educação básica. O autor reforça
que estes grupos não são minorias e sim foram feitos minorias. Vejamos: As
actividades de extensão devem ter como objectivo prioritário, sufragado
democraticamente no interior da universidade, o apoio solidário na resolução
dos problemas da exclusão e da discriminação sociais e de tal modo que nele se
dê voz aos grupos excluídos e discriminados. (SANTOS, 2005, p.37). A
universidade pública assume diante do conhecimento científico desafios no que
se refere à implementação das políticas de ações afirmativas. Portanto, é
necessário investigar um pouco mais como tem sido o trabalho dos professores em
relação à implementação destas políticas. Temos a pretensão de socializarmos no
VIII JORNADAS DO GT MUNDOS DO TRABALHO ANPUH/RS, partes de uma pesquisa de
doutorado da UFRGS que vem dialogando com estas temáticas, cujo objetivo é
socializar dados estatísticos de uma investigação referente ao acesso,
permanência e sucesso dos alunos cotistas autodeclarados negros, e como tem
sido o trabalho dos professores em relação a estes alunos na UFRGS. A
metodologia utilizada será constituída de relatórios, formulários de
investigação e entrevistas com alunos cotistas de como estes percebem a
universidade, e como esta tem oportunizado suas participações em seus núcleos.
Outras políticas serão apresentadas a fim de dialogar com os professores, pois
são políticas que buscam atender alunos oriundos de escolas públicas, negros,
quilombolas, ribeirinhos, indígenas e outros segmentos nas universidades. Por
isso, faz-se necessário apresentarmos dispositivos legais (legislações) que
incidem diretamente nas questões curriculares que os professores precisam
conhecer e auxiliar na inserção destas especificidades no currículo. São elas:
1- PROUNI - Programa Universidade para Todos - institucionalizado pela Lei n.º 11.096,
em 13 de janeiro de 2005, tem como objetivo a concessão de bolsas de estudos
integrais e parciais para estudantes egressos do Ensino Médio da rede pública
ou da rede particular nas condições de bolsistas integrais, como renda per
capita familiar máxima de três salários mínimo. 2- PROUNI no ano de 2014
totalizou 653.992 candidatos. Os cursos preferidos foram as engenharias
(166.807), Administração (137.515); Direito (119.447); ciências contábeis
(61.169) e pedagogia (56.250). Outro dado importante quanto ao PROUNI foi a
procura desta Programa sendo a maioria por mulheres, ou seja, um total de 59%
sendo então 384.063. No que se refere às questões étnicas, a maior parte dos
candidatos são negros, ou seja, 409.527 representando 62%%; - os brancos representam
34,9%; os amarelos 2,4% e apenas 0,1% representam os que se autodeclararam
indígenas, totalizando então 853 candidatos. 3- FIES – Fundo de Financiamento
ao Estudante do Ensino Superior (1998) - é um programa do Ministério da
Educação do Brasil destinado a financiar a graduação na educação superior de
estudantes matriculados em instituições não gratuitas. 4- UAB – Universidade
Aberta do Brasil – o sistema foi criado em 2005 para "o desenvolvimento da
modalidade de educação a distância, com a finalidade de expandir e interiorizar
a oferta de cursos e programas de educação superior no País". Tem como
proposta formar gestores, professores e profissionais da educação em temas e
conteúdos que perpassam a educação, tais como diversidade, gestão, direitos
humanos, educação inclusiva, educação ambiental, saúde e escola, dentre outros.
5) PROGRAMA INCLUIR – foi instituído em 2005, e cumprem os Decretos 5.296/2004
e 5.626/2005, publicado no Diário Oficial da União nº 84, seção 3, páginas 39 e
40, de 5 de maio de 2008. Ele é um Programa de Acessibilidade na Educação
Superior – voltado para a inclusão de estudantes portadores de deficiência no
Sistema Federal de Ensino Superior. Existem outras, mas estas são as que mais
têm influenciado o trabalho dos professores e contribuído com os diálogos e as
categorias de acesso permanência e sucesso dos alunos cotistas nas
universidades públicas brasileira porque estas políticas ao adentrarem o
currículo, imprimem nos professores a necessidade destes trabalharem amparados
nas legislações respeitando as diversidades que integram o processo de
transformação social.
Referências:
SANTOS,
Boaventura de Sousa. A
universidade no Século XXI: para uma reforma democrática e emancipatória da
universidade - 3ª ed. São Paulo: Cortez, 2010.http://noticias.terra.com.br/educacao/prouni-tem-50-a-mais-de-inscrit,4177fa10c6796410VgnCLD200000b1bf46d0RCRD.
HTML – acessado em 01.07.2015.