Sessão Coordenada 06 GRUPOS PROFISSIONAIS E DESLOCAMENTOS

RESUMOS EXPANDIDOS DAS SESSÕES COORDENADAS

Dia 27/10/2015 – Terça-feira

13h30 às 15h30 – Sessão Coordenada 06
GRUPOS PROFISSIONAIS E DESLOCAMENTOS
COORDENADOR: PROF. DR. ROBÉRIO SOUZA (UNEB)

A precariedade do trabalho das construções das ferrovias
Tamires Sacardo Lico (Mestranda em História- UNICAMP)
Palavras-chave: trabalhadores livres - precariedade do trabalho – ferrovias - empreiteiras
Resumo expandido:
O tema da precariedade do trabalho vem sendo discutido pela historiografia brasileira e internacional como ponto importante para entender as relações entre os trabalhadores e o patronato nos séculos XIX e XX. Diferente do que argumenta alguns pesquisadores, partimos da concepção de que o limite entre o trabalho livre e o trabalho escravo era tênue, uma vez que a compreensão do conceito de liberdade não se aplicava tanto para trabalhadores escravizados quanto para trabalhadores livres. Trabalhadores livres nacionais, estrangeiros e escravos, compartilhavam a experiência da precariedade da escravidão. Em pesquisas recentes, podemos constatar que a condição do trabalhador livre tanto para o século XIX quanto para a primeira metade do século XX era precária e o trabalho compulsório se fazia presente. Uma problemática em questão se dá nos trabalhadores das construções das ferrovias no Brasil, uma vez que a produção historiográfica sobre o tema ainda se faz carente de estudos. Para o período citado encontramos uma vasta bibliografia sobre trabalhadores das lavouras ou industriais e por tal razão, destacamos a importância de compreender as condições dos trabalhadores das construções ferroviárias. O trabalho por empreitada foi característica comum nas construções de ferrovias no Brasil e outros países por ser considerado mais conveniente, o objetivo dos administradores das ferrovias estava em reduzir ao máximo o custo das obras, e as empreiteiras eram acionadas para cumprir esta função. A obra então era dividida pelo sistema de empreitada, onde, após a regularização da concessão, iniciava-se a contratação de empreiteiras que seriam responsáveis por determinados setores da construção, estas empreiteiras, por sua vez também contratavam serviços de construção, ou seja, subempreiteiras que ficavam responsáveis por partes da linha, geralmente oito e nove milhas cada. É através dessa organização por empreitada na construção que a mão-de-obra a ser contratada ficava sob responsabilidade de um turneiro. A construção de uma ferrovia demandava grande número de trabalhadores, qualificados e não qualificados. Eram empregados nas obras de construção engenheiros, técnicos e trabalhadores que não necessitavam de especialização, as primeiras tarefas da construção eram consideradas execuções mais penosas e perigosas. Divide-se em duas fases o processo de execução das construções: o de “infraestrutura” composto por terraplanagem, obras de arte e obras acessórias, e o de “superestrutura”, com assentamento dos trilhos, sinais, desvios e estruturas metálicas das pontes (LAMOUNIER, 2012: 123). De acordo com Lamounier, as linhas eram divididas em seções, cada uma a cargo de um engenheiro responsável, que supervisionava engenheiros residentes, responsáveis por seções menores, que variava de acordo com a complexidade da obra. As tarefas eram realizadas por turmas de trabalhadores – sondadores, roçadores, cavouqueiros, condutores, niveladores – e ficavam sob a supervisão de um capataz. Os trabalhos variavam dos mais simples, com a utilização do serviço braçal e animal, até os mais complexos, utilizando-se instrumentos mais sofisticados como máquinas a vapor, prensas hidráulicas, tornos, perfuradores. Este trabalho é resultado do desenvolvimento da minha pesquisa de mestrado pela Universidade Estadual de Campinas, que se encontra em estágio inicial. Para compreender o período que abarca a segunda metade do século XIX e início do século XX, utilizo como fontes secundárias trabalhos sobre construções de duas ferroviárias em especial, da estrada de ferro Noroeste do Brasil (MORATELLI, 2012) , e a San Francisco Railway (SOUZA, 2013) . Como fontes primárias utilizo a documentação referente a Companhia Paulista das Estradas de Ferro, variando de jornais do período como a Gazeta de Campinas que se encontra no Centro de Memória da Unicamp, notas das Assembleias referentes ao período de construção que estão disponíveis online e dos Protocolos de Campo pelo Arquivo Público do Estado de São Paulo.
Referência:
LAMOUNIER, Maria Lúcia. Ferrovias e Mercado de Trabalho no Brasil do Século XIX. Editora da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012. p. 123.
MORATELLI, Thiago. Operários de empreitada: os trabalhadores da construção da estrada de ferro Noroeste do Brasil (São Paulo e Mato Grosso, 1905-1914). 1ed. ed. Campinas: Editora Unicamp, 2013. p. 272.
SOUZA, Robério dos Santos. Se eles são livres ou escravos : escravidão e trabalho livre nos Canteiros da Estrada de São Francisco: Bahia, 1858-1863. Tese de Doutorado. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. 2013.

Considerações sobre relações de trabalho no contexto das mobilizações de marinheiros da marinha de guerra brasileira
Robert Wagner Porto da Silva Castro (Mestrando em História – UFPel)
Palavras-chave: relações de trabalho - marinheiros - Marinha do Brasil
Resumo expandido:
OBJETIVOS
Diante de uma temática que abarca relações tão dinâmicas como aquelas estabelecidas no mundo do trabalho, sobretudo na contemporaneidade, o presente trabalho busca analisar as relações de trabalho estabelecidas por um segmento específico dentro da Marinha de Guerra Brasileira, a saber: praças nas graduações iniciais, isto é, cabos, marinheiros e soldados. Neste sentido, o enfoque principal desta pesquisa se estabelece sobre a mobilização daqueles militares a partir da Associação de Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil (AMFNB) entre os anos de 1962-1964. Deste modo, serão analisadas também algumas características inerentes aqueles militares e à própria atividade marinheira, bem como, a relevância dessas características durante o processo que os levou se organizar enquanto grupo na busca pelo atendimento de determinadas reivindicações. 
No contexto da análise realizada nesta pesquisa, tenho como objetivo evidenciar o processo de identificação daqueles militares e sua mobilização, enquanto grupo, em busca do atendimento de determinadas demandas sociais, e ainda, daquelas relacionadas ao seu universo de trabalho e à carreira militar naval. Buscando compreender a mobilização dos marinheiros e a própria constituição da AMFNB enquanto parte integrante de uma realidade sindical e reivindicatória, em um contexto de intensas lutas por direitos sociais experimentado pela sociedade brasileira à época. Procurando assim, analisar o fortalecimento de uma consciência de grupo por parte daqueles militares, a partir das relações de trabalho estabelecidas com seus superiores hierárquicos, especialmente a bordo dos navios de guerra da Marinha do Brasil. Deste modo, buscarei também aprofundar os debates mais recentes da historiografia acerca da aplicabilidade dos conceitos de “classe” e “luta de classes” na análise histórico-social de determinados segmentos de trabalhadores situados “às margens do mundo do trabalho”, como os militares analisados na presente pesquisa.  
JUSTIFICATIVA
A escolha deste tema justifica-se, primeiramente, por buscar reconstruir a trajetória de mobilizações de caráter reivindicatório de um segmento específico de militares da Marinha, evidenciando suas demandas, bem como, aspectos e características peculiares aos mesmos e a sua atividade na instituição militar naval brasileira. E ainda, por contribuir para o debate acerca das relações de trabalho estabelecidas entre superiores e subordinados naquela instituição, bem como, sobre a aplicabilidade dos conceitos de “classe” e “luta de classe”. Sem deixar de considerar a condição hierárquica daqueles militares na instituição militar e, ainda, o fato de não existir uma relação de produção entre os marinheiros e a oficialidade. Mas sim, uma relação de dominação – corroborada por um regulamento disciplinar – em um espaço onde são estabelecidas relações de trabalho e vivenciadas experiências sociais das mais diversas, tendo em vista o caráter de microcosmo dos navios de guerra. Neste sentido, a presente pesquisa contribui para trazer ao centro do debate sobre trabalho e relações de trabalho, segmentos que não se enquadram nas análises clássicas dessas relações, uma vez que as mesmas estão fundamentadas nas relações de produção.
FONTES
  No desenvolvimento da presente pesquisa, a análise das fontes de memória tem papel precípuo, destacando-se as obras memorialísticas escritas por ex-marinheiros, membros da AMFNB, e as entrevistas de História Oral. No que concerne às entrevistas, existe a previsão de que seja realizado um total de oito, especialmente com militares e ex-militares que de alguma maneira vivenciaram o movimento de marinheiros e fuzileiros entre os anos de 1962-1964. De modo a complementar as análises das fontes de memória, até o momento, estão sendo analisadas fontes oficiais e de imprensa coletadas junto a(s) / ao(s): arquivos pessoais de alguns entrevistados, Arquivo da Marinha no Rio de Janeiro-RJ, base de dados do Arquivo Edgard Leuenroth (projeto Brasil Nunca Mais) e Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro-RJ.
 METODOLOGIA
Notadamente as fontes de memória têm significativa relevância na presente pesquisa, deste modo, a História Oral, enquanto arcabouço metodológico cumpre papel essencial, em especial, no que concerne à reconstrução da trajetória dos marinheiros enquanto segmento social específico nas fileiras da Marinha do Brasil durante o recorte temporal destacado neste trabalho. Desta maneira, a partir da análise das memórias de integrantes do movimento dos marinheiros, buscarei uma melhor compreensão acerca das demandas daqueles militares e de suas relações sociais, sobretudo as de trabalho, no contexto do processo de mobilização abordado nesta pesquisa. No que se refere às fontes oficiais e jornalísticas, que serão utilizadas de modo a complementar e auxiliar na análise das fontes orais, será empregada a ferramenta metodológica da análise de conteúdo, mais especificamente na perspectiva qualitativa.
HIPÓTESES
Ao analisar as mobilizações de praças nas graduações iniciais da Marinha do Brasil, especialmente aquela em torno da AMFNB (1962-1964), é possível perceber em seu contexto os contornos de um conflito de classes, mesmo em se tratando de um ambiente militar em que não se estabelecem relações de produção entre superiores e subordinados. O processo de identificação e diferenciação, vivenciado por aqueles militares durante o exercício das relações de trabalho com seus superiores hierárquicos, teria propiciado sua mobilização na busca pelo atendimento de suas demandas. Culminando assim em um nível de consciência enquanto grupo social, alcançada especialmente pelos membros da associação.
Por fim, como já citado anteriormente, ressalto que as relações de trabalho e produção nos dias atuais são demasiadamente dinâmicas. Neste contexto, apresenta-se a necessidade de se aprofundar o debate teórico acerca dos conceitos de classe e luta de classes de modo a cada vez mais torná-los adequados a abarcar questões socioculturais, tão presentes na sociedade capitalista contemporânea.


Origens e Formação de Técnicos Contábeis em Porto Alegre/RS: Um Estudo de Caso entre os anos de 1950-1983
Eduardo Cristiano Hass da Silva (Mestrando em História - PUCRS)
Palavras-chave: técnicos contábeis – História Social das Profissões - prosopografia
Resumo expandido:
O trabalho a ser apresentado faz parte da pesquisa de mestrado do autor que traça o perfil social dos professores formadores de técnicos contábeis de Porto Alegre/RS entre os anos de 1950-1983, integrada ao projeto “Do Deutscher Hilfsverein ao Colégio Farroupilha: Entre memórias e histórias (1858-2008)”, coordenado pela Profª. Dra. Maria Helena Camara Bastos. Nessa pesquisa, o objetivo principal consiste em investigar o processo de formação e popularização dos técnicos contabilistas do Rio Grande do Sul, a partir da biografia coletiva dos alunos formados pela Escola Técnica de Comércio do Colégio Farroupilha/RS (1950-1983), averiguando a importância dos profissionais contabilistas no contexto elencado. A pesquisa se faz necessária, entre outros motivos, pela quantidade de profissionais técnicos contabilistas do país e do estado do Rio Grande do Sul. Em 27 de maio de 1946 é regulamentado o Conselho Federal de Contabilidade, e em 11 de fevereiro de 1953 é criada a CNPL (Confederação Nacional das Profissões Liberais). Segundo a CNPL em 2009, 26,52% dos profissionais liberais do país eram contabilistas, contando com um total de 144 sindicatos. No caso do Rio Grande do Sul, a categoria de técnico contábil possui significativa importância, sendo também uma das profissões de nível técnico com o maior número de atuantes.  No entanto, apesar do número expressivo de formados na área, a profissão carece de estudos sobre a sua gênese histórica, sua organização e sua popularização. O estudo sistêmico da história da profissão de técnico em contabilidade permite compreender o papel dos mesmos em sua atuação na sociedade bem como sua influência, contribuindo para a história social das profissões. Como metodologia da pesquisa tem-se utilizado a prosopografia, também denominada de biografias coletiva. Ao falar da utilização deste método, Heinz (2006) afirma que ele é fundamental na elaboração de perfis sociais de grupos e categorias profissionais, dando destaque aos mecanismos coletivos que caracterizam as trajetórias e estratégias de carreiras. Para traçar a biografia coletiva dos técnicos em contabilidade formados pelo Colégio Farroupilha/RS (1950-1983), e levantar o perfil social desta categoria, elaborou-se um questionário biográfico, resgatando dados como nome, sexo, idade, formação, religião, filiação, local de conclusão do ginásio e primário, origem social, hábitos familiares, entre tantas outras informações. A importância deste questionário biográfico é salientada por Charle (2006), para quem o método permite definir uma população a partir dos critérios e variáveis estipulados pelo pesquisador. Após a realização do quadro biográfico, considera-se de grande importância a construção de quadros, tabelas e gráficos que permitem o cruzamento de dados e informações e colaborem com o objetivo da pesquisa, conforme o salientado por Almeida e Grazziotin (2012). Os documentos que permitem a realização desta pesquisa encontram-se salvaguardados no Memorial do Colégio Farroupilha. O acervo documental escolar é composto por fotos, móveis, convites de formatura, relatórios produzidos pelo estado, cadernos e livros escolares e pessoais doados por ex-alunos, cadastros de discentes e docentes, entre tantos outros documentos. Os referenciais utilizados perpassam diferentes áreas da história, como a História Social das Profissões, História das Elites e História da Educação. Os resultados do estudo são parciais, uma vez que a pesquisa encontra-se em estado inicial. Porém, alguns elementos já podem ser destacados.  Inicialmente observa-se o grande número de homens formados em detrimento do número de mulheres. Ao longo de seus 33 anos de existência, a Escola Técnica de Comércio do Colégio Farroupilha formou 862 técnicos, sendo 572 homens e 290 mulheres. Depois disso, preocupou-se em resgatar as origens destes técnicos, que apesar de serem em sua maioria de nacionalidade (entendida aqui como local de nascimento) brasileira, tiveram representantes de outros países, mostrando uma relativa diversidade entre os alunos da Escola Técnica. Dentre os estrangeiros, encontrou-se como local de nascimento Alemanha, Argentina, China, França, Grécia, Itália, Portugal, Síria e Uruguai. Dos alunos brasileiros, observa-se que diferentes estados tiveram representantes na ETC Farroupilha, como Minas Gerais, Pará, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Santa Catarina, São Paulo e com o maior número de representantes, o Rio Grande do Sul. Ao elencar as cidades de origem dos alunos gaúchos, encontra-se 131 locais de nascimento. Ao destacar os cinco maiores números de nascimentos por cidade, salienta-se nove cidades com o maior número de alunos: Porto Alegre com 312 formados, Cachoeira do Sul e Pelotas com 15 cada uma, Santa Maria com 14, Bagé e Montenegro com 13 e Rio Grande, Santa Cruz do Sul e Uruguaiana com 12 formados. A análise dos campos “Nome do pai” e “Nome da mãe” do quadro biográfico construído permitiu traçar a genealogia deste grupo de técnicos contabilistas, possibilitando identificar relações de parentesco. Observou-se a presença de um número significativo de irmãos que cursaram o Ensino Técnico Comercial. Ao longo da existência da ETC, 37 famílias confiaram não apenas um, mas até dois ou três filhos à instituição. Esse dado mostra a importância que a profissão de Técnico Contábil estava adquirindo perante esse grupo de pessoas.
Referencias:
CHARLE, Christophe. A prosopografia ou biografia coletiva: balanço e perspectivas. In: HEINZ, Flávio M. (org.). Por outra história das Elites. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006. p. 41-54.
GRAZZIOTIN, Luciane Sgarbi Santos; ALMEIDA, Dóris Bittencourt. Romagem do tempo e recantos da memória: reflexões metodológicas sobre História Oral. São Leopoldo: Oikos, 2012.
HEINZ, Flávio M. (org.). Por outra história das Elites. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006.
PACHECO, Pietro Gabriel dos Santos. A Escola Técnica de Comércio Farroupilha (ETC/1949-1982) In: BASTOS, Maria Helena Camara; JACQUES, Alice. Rigon; ALMEIDA, Dóris Bittencourt (orgs.). Do Deutscher Hilfsverein ao Colégio Farroupilha/RS: memórias e histórias (1858-2008). Porto Alegre: EDIPUCRS, 2013. p. 260-282.

A profissão de sapateiro na cidade de Pelotas a partir da Delegacia Regional do Trabalho-RS, 1939-1943
Renan Amaral Alves (Graduando em História - UFPel)
Palavras-chave: trabalhadores – sapateiros - acervo
Resumo expandido:
1. INTRODUÇÃO: A Carteira Profissional da Delegacia Regional do Trabalho (DRT), instituídas pelo decreto nº 21.175 de 21 de março de 1932 durante o governo de Getúlio Vargas, foi criada com o intuito de regulamentar os direitos trabalhistas, desenvolver uma melhor regulamentação do ambiente de trabalho e fazer com trazer a garantia aos diretos de férias, 13º salário e outros benefícios do trabalhador. A fonte de pesquisa utilizada para este trabalho foram as Fichas de Qualificação Profissional da DRT-RS - referentes à profissão de sapateiro na cidade de pelotas dos anos de 1939 até 1943. Um dos objetivos dessa análise, é observar as principais características dos trabalhadores regulamentados nos primeiros anos após a implementação da Carteira Profissional do Trabalho, e fazer uma ligação entre os dados encontrados nas fichas com a bibliografia encontrada sobre o tema. Consoante a esta pesquisa, este trabalho se enquadra no campo denominado História Social do Trabalho. O qual tem ajudado a contribuir na construção de uma maior historiografia a respeito do mundo do trabalho, voltado para as profissões de pessoas em diferentes classes sociais. 2. METODOLOGIA:
O acervo da DRT-RS conta com aproximadamente 630.00 fichas de qualificação profissional. Assim, fazendo-se necessária a criação de um arquivo em forma de banco de dados digital, para serem salvas as informações que constam nas fichas. Com a criação de um programa de configurações específicas para a armazenagem dos dados do acervo, se possibilita encontrar as informações digitalizadas das fichas nos computadores do Núcleo de Documentação Histórica da Universidade Federal de Pelotas, localizado no Campus de Ciências Humanas.
Ao ser feita uma pesquisa com utilização do banco de dados digitais, é possível encontrar informações referentes às fichas, em formatos de porcentagens e números, o que possibilita a criação de gráficos e tabelas, característicos da chamada História Quantitativa (BARROS,2008). Neste trabalho, foram selecionados todos os profissionais registrados como sapateiros na cidade de pelotas. Resultando em solicitações feitas entre 1939 até 1943, onde se localizaram 37 solicitações de carteira digitalizadas até o momento da pesquisa.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO: No período de implementação da carteira profissional em 1932, a cidade de Pelotas passava por um momento econômico complicado, a cidade não acompanhou o desenvolvimento tecnológico dos outros polos industriais do estado. Nesse contexto se desenvolveu a indústria calçadista da época (SOARES, 2002). A profissão de sapateiro no início do século XX era inicialmente feita de modo familiar. Onde o mestre sapateiro trabalhava com confecções artesanais, com a ajuda de aprendizes – que por maioria das vezes eram membros da própria família. Com o passar dos anos e com a introdução de máquinas no meio calçadista, as oficinas calçadistas passaram a contar com sapateiros voltados a funções artesanais e outros com funções maquinarias (SCHEER, 2014). 4. CONCLUSÕES: A regulamentação das profissões por meio da Carteira Profissional – atual Carteira de Trabalho – foi uma das mais significantes conquistas dos direitos trabalhistas brasileiros. Contudo, nota-se que são poucos os trabalhos relacionados à pesquisa com ênfase no tema da solicitação da carteira. Portanto, pesquisas como a realizada neste trabalho, contribuem para a construção historiográfica.
Referências bibliográficas:
BARROS, José D’Assunção. O campo da história: especialidades e abordagens.Rio de Janeiro: Vozes, 2008.
SCHEER, Micaele Irene. Aprender-fazendo: reflexões sobre a relação entre aprendizes e sapateiros (Pelotas, 1960-2014. IN: Oficina do Historiador, Vol 7, Iss Supl. 2014, pp.233-246.
SCHEER, Micaele Irene. Vestígios de um ofício : O setor calçadista e as experiências de seus trabalhadores na cidade de Pelotas (1940-2014). Dissertação (Mestrado em História) – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, PUCRS.2014.163 f.
SOARES, Paulo Roberto Rodrigues. Del proyecto urbano a la producción del espacio: morfologia urbana da cidade de Pelotas, Brasil, 1812-2000. Barcelona: Universidade de Barcelona. Tese de Doutorado em Geografia Humana, 2002.

Os caminhos do Sol: migração sertão – cidade de Sobral 1950-1980
Maria Antonia Veiga Adriao (Doutoranda em História – UFC)
Palavras-chave: migração- cultura - trabalho
Resumo expandido:
Trata-se da pesquisa que estamos finalizando sobre a migração realizada por agricultores que moravam no Sertão Centro Norte do Estado do Ceará, à cidade de Sobral, também situada nessa região, que ocorreu entre 1950 – 1980 do XX. Quando interessa-nos saber por que Sobral e não outros Estados como os que surgiram na pesquisa de Mestrado (Recife, 2002), ocasião que entrevistamos sessenta e três agricultores aposentados, moradores de uma comunidade agrícola próxima de Sobral, que tinham como característica cultural a mobilidade desde crianças dentro da zona rural dessa área, quando aprenderam deste modo a refutar a ideia de morar em uma cidade por menor que fosse. Contudo, vários já conheciam Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo, onde haviam ido a passeio visitar filhos lá residentes, quando percebemos que essa experiência corroborava também, para que rechaçassem a possibilidade de morar em um centro urbano, por aparecer conjugado às vivências negativas que esses agricultores tiveram nas visitas aos filhos, uma vez que vislumbravam a cidade na chegada e na saída, e assim, formulavam uma ideia de grandeza associada à violência, confinados que ficavam às residências dos filhos durante a estadia em bairros periféricos, nesse sentido, distantes e de difícil acesso. Assim, a migração para Sobral teria relação com o temor que a grande cidade causava aos agricultores? Destarte, nosso objetivo foi estudar o ponto de vista dos entrevistados sobre essa mobilidade através da oralidade, e de tal modo, observar nas recordações e interpretações do vivido, suas experiências com o sistema de propriedade privada da terra, o que compreendia a relação com patrões/proprietários, a exploração do trabalho, as formas de moradia, a convivência com as estiagens, e em Sobral, a aprendizagem de novas profissões e exigências no campo do trabalho e moradia, quando ainda objetivamos saber como se deu a alteração cultural, abrangendo aí as diversas circunstâncias do cotidiano. Portanto, “reconstruir a visão a partir de baixo” como defendeu Thompson (1998: 30; 68-69); e ressaltar no “exame dialético”, como se construiu “o campo de força societal” nas pelejas pela sobrevivência e permanência nessa cidade. Não obstante, não a título de comprovação das recordações dos migrantes, (FERREIRA, 1994: 10), mas para a análise do contexto oficial e cultural que envolvia não apenas essa população, mas o estrato de proprietários; buscamos um semanário quase centenário, o Correio da Semana fundado em 1918, e dirigido pela Diocese de Sobral, espaço dos discursos e proposições políticas desse setor, assim como dos segmentos privilegiados letrados da cidade, o que abrangia, mormente, uma fração da Igreja Católica que defendia entre outros temas, a reforma agrária. Consequentemente, tanto a urbanização da região, como o sistema agrário, podem ser materializados a partir das matérias trazidas pelos articuladores que escreviam nesse Periódico. Deste modo, havia um debate de como o Estado deveria conduzir as políticas agrária e urbana, quando é interessante perceber que a posição do agricultor pobre corroborava como fator de persuasão, porque era colocada no centro dos debates, ora para reivindicar políticas que sanassem sua situação de risco e evitar o “êxodo”, ora para propor ampliar o status quo dos proprietários, quando exoravam que sem subsídios estatais não havia como melhorar a produção agrícola, que ressoaria na melhoria da situação dos trabalhadores e por sua vez também evitar o êxodo. Ainda foram importantes relatórios como os do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e outros. Realizamos vinte sete entrevistas em áudio e vídeo divididas em várias sessões, conforme a disponibilidade e interesse dos migrantes, que nos surgiram a partir do primeiro contato como indicação de vizinhos, amigos, cônjuges, e desse modo, efetivamos as entrevistas com migrantes moradores de alguns bairros da cidade, sendo que a maior parte se colocou como primeiro morador do bairro ou um dos primeiros. Perscrutamos nas recordações e representações do vivido, “a cultura a partir de baixo”, quando novamente guardadas às proporções, Thompson (1998, p. 54; 65) foi de suma importância. De tal modo apareceram às dificuldades de convivência com o sistema agrário, insurgiram as formas de resistência, as negociações, as tensões e medições de força, não de forma coletiva como o “contrateatro” defendido por esse autor, todavia, no campo individual. Percebemos que emigrar para Sobral estava em diálogo com permanecerem próximos a parentes e amigos, mas, sobretudo, dos lugares conhecidos. Conquanto, encontramos algumas diferenças entre os agricultores sem posses (moradores das propriedades) e os pequenos proprietários e posseiros, o que estabeleceu uma linha tênue e não para todos, porque dependia das possibilidades já postas na cidade com parentes e amigos, porém definiu diferenças na construção das novas relações nessa urbe, nomeadamente no campo do trabalho e moradia. Porque alguns na chegada, no ato de lidar com o desemprego buscaram negociar no mercado público, o que envolveu a família ou parte dela, e para morar, puderam contar temporariamente com apoio de parentes enquanto adquiriam uma “casinha”. Não obstante, viver em Sobral foi mais complexo para quem chegou sem nenhuma economia para recomeçar, o que também os levou pelo que notamos, a rescindir mais facilmente as relações com o sertão, posto que a vida difícil na cidade, os impediam de realizar o trânsito livre entre campo e cidade quando se viam desempregados; e por outro, os levaram a recorrer à agricultura de subsistência nos campos propícios dentro de Sobral, que no período pelas narrativas, parecia dispor de bastante espaço. Igualmente a cidade exigiu mais das mulheres menos afortunadas que se empregaram notadamente no serviço doméstico, encetando aí questões de gênero, porque se os homens encontraram dificuldade de ingressar nas fábricas da cidade, (que no período multiplicaram-se sopesando os incentivos governamentais); porque “não tinham estudo” e só “encontravam serviço pesado”, as mulheres nem tentaram, porém, justificando a mesma questão, qualificação profissional. Encontramo-las na prestação de serviços domésticos (lavadeiras, engomadeiras, domésticas), no inaudível comércio nas feiras, e ligadas a profissões como costureiras, professoras, “enfermeiras/parteiras” (auxiliar de enfermagem). Portanto, não precisamos enfatizar que o problema da escolarização e competência profissional ganhou uma tônica quase unânime. Ao analisarmos estudos sobre migração no Brasil, concluímos que os confrontos dos migrantes sem posses, dependentes do sistema de propriedade privada da terra nos centros urbanos industrializados, são semelhantes, independentemente de serem grandes ou pequenos centros, do ponto de vista econômico e cultural.
Referências:
ADRIÃO, M. A. V. Memórias do Sertão: a migração sertaneja entre imagens e discursos literários. Recife, 2002. (Dissertação de Mestrado) Universidade Federal de Pernambuco, orientação da Profa. Dra. Sílvia Cortez Silva. 205p.
FERRERIRA, M. de M.. História oral: um inventário das diferenças. IN: FERRREIRA, M. de M.; (coord.). Entre-vistas: abordagens e usos da história oral. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1994, p. 1-13.

THOMPSON, E.P. Patrícios e Plebeus. In: THOMPSON, E.P. Costumes em Comum: Estudos Sobre a Cultura Popular Tradicional. Trad. Rosaura Eichemberg. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 25-85.